sábado, 15 de dezembro de 2018

Viver o Advento – Aprender com as pedras da vida




Ao final de cada ano somos bombardeados com imensa publicidade sobre o Natal, com suas facetas comerciais e publicitárias. As lojas aproveitam esta época para fazer uma chuva de promoções, incentivando a venda do seu stock, iluminando as suas montras e invocando valores sociais como a família, o amor, e até mesmo a solidariedade para chamar a atenção dos compradores.

Sinceramente, a cada ano, julgo que se vive cada vez menos o Natal.

Cada vez mais, o Natal, na sua essência se perde para dar lugar a uma festa como as outras, num profundo vazio material.

“Mostra-me, SENHOR, os teus caminhos e ensina-me as tuas veredas. Dirige-me na tua verdade e ensina-me, porque Tu és o Deus meu salvador. Em ti confio sempre.” (Salmo 25,4-5)

No entanto, sabiamente a Igreja católica antecede o Natal com um tempo propício à reflexão chamado de Advento.

“Devemos perguntarmo-nos:  o que quer dizer vinda do Senhor? Em grego é "parusia", em latim "adventus":  "advento", "vinda". O que é esta vinda? Envolve-nos ou não?” (Papa Bento XVI - 26 de Novembro de 2005)
  

Nos últimos meses tenho tido obras em casa. E as obras em casa são um pouco como as obras em nosso espírito. Durante a sua execução, muito lixo fica pelo caminho, sem falar nas pedras que foram o resultado de demolições e reparações que foram feitas para refazer e remodelar os espaços. Por causa disso, para manter as coisas minimamente limpas, sempre que vejo uma pedra no chão, retiro-a para ir limpando os caminhos por onde passo no quintal.

Esta atividade de limpar as pedras do caminho fizeram-me refletir sobre as pedras que também encontrei no meu caminho de vida.

As pedras que caiem no chão, atiradas por alguém ou simplesmente porque caiem quando as paredes são demolidas ou remodeladas.

Por vezes, nem sempre os obstáculos são limitações, antes, podem ser degraus de subida, patamares que nunca descobríamos se ficássemos ali parados a ver as pedras a acumularem-se à nossa frente.

Então comecei a usar estas pedras que apareciam aqui e ali no meu quintal, para ir construindo um presépio ao ar livre. Ali mesmo no quintal onde as pedras pareciam estar a mais, fui colocando pedra sobre pedra, moldando uma pequena gruta onde iria colocar o meu presépio.


Penso que toda esta ciência de juntar e de fazer das pedras de tropeço, um alicerce seguro, já vem de Jesus quando disse:

“Não lestes esta passagem da Escritura: A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto é obra do Senhor e é admirável aos nossos olhos?»" (Marcos 12, 10-11)

Por isso, não rejeitei estas pedras que aqui e ali foram invadindo a minha vida. Tenho de aprender com estas pedras, refazer com elas, um novo caminho, uma nova habitação onde possa morar ainda mais perto de Deus.

Há uma passagem bíblica bem mais anterior do tempo de Jesus que me deu ainda mais o que pensar sobre o que uma simples pedra pode nos fazer refletir, agir e prosseguir. Falo da passagem do Antigo Testamento em que Jacó tem um sonho quando deita a sua cabeça sobre uma pedra:

“Jacob saiu de Bercheba e tomou o caminho de Haran. Chegou a determinado sítio e resolveu ali passar a noite, porque o sol já se tinha posto. Serviu-se de uma das pedras do lugar como travesseiro e deitou-se. Teve um sonho: viu uma escada apoiada na terra, cuja extremidade tocava o céu; e, ao longo desta escada, subiam e desciam mensageiros de Deus. Por cima dela estava o SENHOR, que lhe disse: «Eu sou o SENHOR, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaac. Esta terra, na qual te deitaste, dar-ta-ei, assim como à tua posteridade. A tua posteridade será tão numerosa como o pó da terra; estender-te-ás para o ocidente, para o oriente, para o norte e para o sul, e todas as famílias da Terra serão abençoadas em ti e na tua descendência. Estou contigo e proteger-te-ei para onde quer que vás e reconduzir-te-ei a esta terra, pois não te abandonarei antes de fazer o que te prometi.» Despertando do sono, Jacob exclamou: «O SENHOR está realmente neste lugar e eu não o sabia!» Atemorizado, acrescentou: «Que terrível é este lugar! Aqui é a casa de Deus, aqui é a porta do céu.» No dia seguinte de manhã, Jacob agarrou na pedra que lhe servira de travesseiro e, depois de a erguer como um monumento, derramou óleo sobre ela. Chamou a este sítio Betel, quando, originariamente, a cidade se chamava Luz. Jacob fez, então, o seguinte voto: «Se Deus estiver comigo, se me proteger durante esta viagem, se me der pão para comer e roupa para vestir, e se eu regressar em paz à casa do meu pai, o SENHOR será o meu Deus. E esta pedra, que eu erigi à maneira de monumento, será para mim casa de Deus, e pagarei o dízimo de tudo quanto Ele me conceder.» (Gênesis 28,10-22)


Para perceber-se um pouco da história de Jacó no momento desta passagem bíblica, tratava-se do momento mais crítico e difícil da vida dele. Estava ele em fuga, porque o seu irmão queria mata-lo. Jacó estava longe da sua terra e do conforto da sua casa paterna. E por isso, teve de dormir ao relento, encostando a cabeça numa pedra fria e dura para dormir e descansar na sua viagem de exílio.

Mesmo assim, a sua fé inabalável fez-lhe fazer uma promessa de Ação de Graças e usar aquela pedra para erguer ali um monumento que seria a casa de Deus.

Por isso, a Palavra de Deus me fortalece. Não devo temer as pedras da vida, nem devo me afastar da cruz de cada dia, antes devo leva-la como quem leva uma dádiva de Deus.

E assim estou a construir este presépio, vivendo este tempo de Advento,  sem buscar as luzes e as músicas, apenas o Cristo e o seu amor.

“A palavra latina "adventus" refere-se à vinda de Cristo e põe em primeiro plano o movimento de Deus rumo à humanidade, ao qual cada um está chamado a responder com a abertura, a expectativa, a busca e a adesão. E como Deus é soberanamente livre ao revelar-se e ao doar-se, porque é movido unicamente pelo amor, assim também a pessoa humana tem liberdade ao dar o seu consentimento, que é um dever:  Deus espera uma resposta de amor.” (Papa Bento XVI - 4 de Dezembro de 2005)


(Texto de Rosária Grácio)

As palavras bíblicas foram consultadas em 

As palavras do Papa Bento XVI, agora Papa Emérito, foram consultadas em:




Convido-lhe a ver a série de vídeos do meu canal do YouTube que são reflexões para cada semana do Advento em:

Oração da Segunda Semana do Advento





Oração da Segunda Semana do Advento

Está a chegar o dia em que Jesus nasce no coração humano.

Sim, eu sei que o Natal é todos os dias quando quero ser de Deus.

Mas para ser de Deus, preciso avançar por entre as pedras do caminho, por entre as minhas preocupações e limitações diárias, na fé, esperança e caridade.

A fé é fazer destas pedras da indiferença, da deceção, desilusão e contrariedades, um novo caminho de quem espera em Ti, Senhor.

A esperança de usar estas pedras, que antes me impediam de caminhar, erguendo-as, moldando-as em um espaço dedicado a ti Senhor, onde possa ficar Contigo para dedicar-me mais à oração e à meditação da Palavra de Deus.

A caridade de não me fechar no egoísmo do que tenho, partilhando com os que estão ao meu lado ou precisam de mim, as graças que recebo de Ti.

Jesus disse que o perfeito e maior mandamento é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo.

Só assim, poderei construir um santuário em meu coração, dedicado cada vez mais a Ti, Senhor.

Não posso, Senhor, continuar, sem a tua presença. Tudo me leva a Ti. Nada mais há de eterno nesta vida senão o que vem de Deus.
Nesta segunda semana do Advento, preparo-me ainda mais um pouco para receber-te. Abro a porta do meu coração para ouvir a tua Palavra, construindo com a minha vida,  um presépio vivo, fazendo do meu coração, a simples e humilde manjedoura que aguarda a Tua Chegada.

“Neste tempo do Advento, somos chamados a ampliar o horizonte do nosso coração, a nos deixarmos surpreender pela vida que se apresenta a cada dia com suas novidades”. (Papa Francisco, 27/11/2016)

Oração e Narração de Rosária Grácio

Frase do Papa Francisco consultada em
www.acidigital.com/noticias/papa-francisco-o-advento-e-um-convite-a-se-deixar-surpreender-pelo-senhor


Música: YouTube Audio Library

Fotos: Presépio de Rosária Grácio – 2018
Presépio da Igreja de Fânzeres – 2018
Fotos de temas diversos de Rosária Grácio

Pintura do Sagrado Coração de Jesus sobre azulejo
Original de  Gráccio Caetano


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sábado, 8 de dezembro de 2018

Oração da Primeira Semana do Advento




Oração da Primeira Semana do Advento

Senhor, a nossa vida é feita de caminhos, opções e vontades.

Porém, nem sempre nos caminhos encontramos terrenos planos, direitos, assertivos, fáceis e constantes.

Senhor, quantas pedras estão em nosso caminho que nos impedem de prosseguir, que nos afastam do que realmente somos, do que realmente sonhastes para nós desde quando ainda estávamos no ventre materno.

Maiores ou menores, estas pedras que vão aparecendo no nosso caminho, lá estão a ofuscar os horizontes, a deter os nossos passos, a retirar-nos o ânimo, a interromper os nossos objetivos e a retirar-nos a paz.

Na primeira semana do Advento, acendo esta primeira luz porque só contigo Senhor, posso usar estas pedras da vida para construir e me reconstruir, a partir de dentro de mim mesmo.
Nada do que nos acontece é por acaso, e por isso preciso usar estas mesmas pedras que me embaraçam para me reerguer e crescer na minha humanidade e espiritualidade.

Mas não posso fazer isso sozinho, pois humanamente deixo-me guiar pelos sentidos e neles não se encontra a plenitude do que sou, do que posso ou plenamente me faz feliz.

Preciso fazer com que estas pedras das dores e dificuldades da vida formem um lugar seguro, pois poderão ser um alicerce firme onde o meu coração se abra para Ti Senhor, sem confiar apenas nas minhas forças.

Preciso que nasças em meu coração pois não quero celebrar o Natal que se aproxima apenas de forma material sob a aparência festiva que está muito aquém do que desejas para mim.
E para te ter, meu Senhor, para que nasças em mim, em meu coração, na minha vida, preciso reorganizar os meus sentimentos, estabelecer na minha vontade um tempo para te amar de verdade, um espaço onde a Tua Luz Senhor possa se erguer para iluminar toda a minha vida.

Nesta primeira semana do Advento, me proponho a meditar sobre o que vivo no dia a dia junto aos que me rodeiam, buscando a reconciliação e o perdão, não me focando apenas no mal que me rodeia mas antes no bem que posso fazer e pensar, pois a tua paz Senhor, deve começar por mim.



Oração e Narração de Rosária Grácio

Frase de São João Paulo II consultada em

Conheça outras orações católicas em:

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Solenidade da Imaculada Conceição (Homilia Diária.1025)

domingo, 29 de julho de 2018

Apenas uma gota no oceano...



Uma das passagens bíblicas que mais me emociona e interroga, é a multiplicação dos pães feita por Jesus. Já li inúmeras interpretações acerca desta passagem, algumas delas com um sentido válido para o cristianismo e outras mais ligadas ao humano na sua racionalidade.

Multiplicar pães não é algo materialmente possível na lógica da natureza, e por isso, esta multiplicação do pão só pode ser feita na óptica da fé. Acreditar que um pão se multiplica é acreditar no humanamente impossível.

Este humanamente impossível é exatamente a fonte de muitas interrogações humanas, até mesmo em questão de fé e da existência de Deus.

Quando o incêndio devastou na Grécia, nesta passada semana, houve quem perguntasse “-Onde está Deus?”

Seria magnífico que diante de uma atrocidade, Deus aparecesse como super-herói a impedir o mal, especialmente defendendo os justos e inocentes.

O ser humano interroga Deus como uma criança interroga o seu pai, quando cai no chão, e ali o seu pai, mesmo presente, não o impediu de cair.

A criança pensa sempre que os pais tem a obrigação de impedir todo e qualquer mal que lhes aconteça, mesmo que seja a própria criança a por-se em perigo, intencionalmente ou não. Aliás, a noção de perigo para uma criança é algo abstrato, e por isso, sempre sanável. 

E por isso a multiplicação dos pães parece-me vir ao encontro desta desilusão filial.

Nós desejamos um milagre de Deus em nossa vida, que nos liberte, ou pelo menos, impeça que o mal reine.

“Depois disto, Jesus foi para a outra margem do lago da Galileia, ou de Tiberíades. Seguia-o uma grande multidão, porque presenciavam os sinais miraculosos que realizava em favor dos doentes. Jesus subiu ao monte e sentou-se ali com os seus discípulos.” (João 6, 1-3)

Para começar indaguei o “depois disto”. Sim, a meu ver, para um melhor entendimento, a leitura bíblica deve ser lida no seu contexto. Assim sendo, li o capítulo anterior do Evangelho de João.

Neste capítulo nº 5 do Evangelho de São João, fiquei impressionada. Jesus cura um paralítico em dia de sábado, e a partir disso, desenrola-se uma perseguição a Jesus por parte dos Judeus, especialmente os que mais percebiam ou diziam perceber acerca da Lei de Deus. As palavras de Jesus, quando lhes responde, são direcionadas no sentido de lhes dizer que Ele vinha do Pai, porém, os entendidos da lei não O aceitaram.

Então Jesus os convidou a ir às próprias escrituras, de que tinham tanto conhecimento:
“Investigai as Escrituras, dado que julgais ter nelas a vida eterna: são elas que dão testemunho a meu favor. Vós, porém, não quereis vir a mim, para terdes a vida! Eu não ando à procura de receber glória dos homens; a vós já vos conheço, e sei que não há em vós o amor de Deus. Eu vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; se outro viesse em seu próprio nome, a esse já o receberíeis. Como vos é possível acreditar, se andais à procura da glória uns dos outros, e não procurais a glória que vem do Deus único? Não penseis que Eu vos vou acusar diante do Pai; há quem vos acuse: é Moisés, em quem continuais a pôr a vossa esperança. De facto, se acreditásseis em Moisés, talvez acreditásseis em mim, porque ele escreveu a meu respeito. Mas, se vós não acreditais nos seus escritos, como haveis de acreditar nas minhas palavras?»" (João 5, 39-47)

Foi exatamente toda esta discussão acerca da veracidade da pregação de Jesus que precedeu a multiplicação dos pães.

Não importando a descrença dos judeus mais entendidos nas escrituras, uma multidão continuava a seguir Jesus, especialmente porque Ele curava os doentes.

"Jesus subiu ao monte e sentou-se ali com os seus discípulos. Estava a aproximar-se a Páscoa, a festa dos judeus. Erguendo o olhar e reparando que uma grande multidão viera ter com Ele, Jesus disse então a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?» Dizia isto para o pôr à prova, pois Ele bem sabia o que ia fazer. Filipe respondeu-lhe: «Duzentos denários de pão não chegam para cada um comer um bocadinho.» Disse-lhe um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: «Há aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?» Jesus disse: «Fazei sentar as pessoas.»(João 6, 3-10)

Jesus ergue o olhar, vê a multidão e compreende a sua necessidade e diz: - "Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?"

Filipe vê a limitação material e responde: - "«Duzentos denários de pão não chegam para cada um comer um bocadinho.»"(João 6, 3 - 7)

Simão vê a limitação humana quando assim verifica: - "«Há aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?»"

Então, Jesus convida à ação: - "«Fazei sentar as pessoas.»"

Neste diálogo de Jesus com os seus discípulos, toda a fragilidade e limitação humana é descoberta em frases curtas e tão cheias da realidade do nosso quotidiano.

Para começar, o que inicialmente nos impede de dar o primeiro passo é a limitação material. Quantas vezes dizemos que o que temos é infinitamente pouco para resolver os problemas do mundo.

E depois, quando há qualquer coisa que se possa dar, paramos diante da nossa limitação humana, pois julgamos isso muito pouco, e que em nada resolverá o problema que temos a frente de nós.

Também à Santa Madre Teresa de Calcultá, um jornalista também disse que aquilo que ela fazia era pouco… E a madre, em sua humildade, apenas referiu que se o jornalista também o fizesse, seria mais um, e se a esposa dele também o fizesse, já seriam mais dois, e se os filhos do jornalista também o fizessem, então seriam ainda mais pessoas a fazerem o bem.

A questão de um fazer e julgarmos que é pouco, é como aquele que vê um papel no chão, e o joga no lixo. Parece pouco, mas ali, aquele papel já não sujava o chão.

E o bem, assim como o mal, semeia-se, e dá muito fruto. Pois assim como um incêndio gerou tantas mortes em Portugal e na Grécia, também, desde então, fica uma pergunta: - e o que cada um fez para impedir que mais incêndios fossem ateados?

Para além da mão criminosa que os coloca, há também a impunidade, a falta de ações concretas para limpar e vigiar as matas.

Depois, há uma espécie de silêncio quando depois de chorarmos a calamidade, parece que deixamos tudo nas mãos dos outros, e assim continuarmos a nossa vida, cada qual, para o seu lado.

O ser humano gosta da liberdade, e quando tudo corre bem, há que glorificar a sua inteligência e engenho. Porém, há uma tendência infantil em se culpar Deus, quando as coisas não correm melhor.

Durante muitos anos da minha vida, não ouvi falar de incêndios a devastar cidades. Isso parecia uma daquelas calamidades que só aconteciam em lugares pouco desenvolvidos e sem as mínimas condições. 

Porém, a cada ano, isto de incêndios aparecerem mal há um bocado de calor, interrogava-me.

E os incêndios iam evoluindo ao longo dos anos. inicialmente arrasavam florestas inteiras com a sua vida biológica.

Depois, a devastação matava algumas pessoas, incluindo os próprios bombeiros que na frente das chamas lutavam para acabar com os fogos.

Nos últimos anos, o fogo começa a dizimar cidades.

Há aqui um crescente de mal que vai se desenvolvendo, ao longo de anos, sem que houvesse, de forma clara, uma igual adaptação e atenção de todos para um perigo cada vez mais letal.

Por vezes, falta-nos olhar para cima, como fez Jesus. Olhar para a multidão dos acontecimentos que nos rodeia e interpreta-los. 

Não basta chorarmos as vítimas com palavras. Há que agirmos. Mas esta ação não tem de vir apenas de entidades, mas de cada um, em particular. 

É preciso convidar a todos para "sentar", e assim parar diante de algo que não está a correr bem, e juntos encontrar respostas e soluções conjuntas, que incluam todos, não apenas as entidades supostamente designadas para isso.

Então Jesus manda os discípulos fazer sentar toda aquela gente.

Quando sentamos num lugar, ou é para descansar, seja para comer, conversar ou também, porque é necessário pararmos, e em em comunidade falarmos e vermos o que se passa à nossa volta.

Jesus não quer que as pessoas se vão embora para irem, cada qual, tratar de si e dos seus, conforme o que puderem. Jesus olha a multidão, e não teme os mil homens que estão diante de si, esfomeados. 

Jesus pede para que todos se sentem, pois, é preciso resolver ali mesmo, as necessidades e problemas, em comunidade.

Jesus buscava sempre a interação. Ele, como Filho de Deus, não precisava de ninguém. Porém, desde os seus mais tenros anos, não se isolou. Permaneceu com Maria e José, seu pai terreno, aprendendo deste o trabalho de carpinteiro. Depois, quando iniciou a pregação, escolheu entre os que o seguiam, doze apóstolos, com os quais partilhava e aprofundava os temas mais difíceis da fé e sua vivência.

Jesus convida-nos a não nos isolar, a menos que seja para orar, em momentos mais espirituais e de proximidade a Deus.

Por isso, a multiplicação dos pães dá-nos uma proposta ainda mais audaciosa quando Jesus agradece a Deus, tomando os poucos pães e peixes, daquele “rapazito” que deu tudo o que tinha. 

Jesus não fica com os pães e os peixes, mas dá-os para ser distribuído pela multidão.

"Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os pelos que estavam sentados, tal como os peixes, e eles comeram quanto quiseram."(João 6, 11)

Fico realmente curiosa como que alguns pães e peixes dados por um “rapazito” possam ter saciado uma multidão de pessoas.

No entanto, este tal “rapazito” é a tal pessoa que faltava neste diálogo dos discípulos com Jesus.

Do tal “rapazito” não se conhece o nome, nem sabemos se disse alguma coisa quando deu os pães e peixes que tinha.

A única coisa que este desconhecido “rapazito” fez, foi disponibilizar o que tinha.

E perante o pouco que havia, Jesus deu graças a Deus.

E do pouco, houve fartura.

Se calhar, o milagre que houve, para além da multiplicação divina dos pães, também houve a consciência coletiva das cinco mil pessoas, que vendo um rapazito dar tudo o que tinha para o Mestre, também as fez dar, cada qual, o que tinha e que julgava ser tão pouco.

O pouco com Deus torna-se muito, incalculável e para além do cálculo humano.

Sim, eu creio que Jesus podia multiplicar qualquer coisa, e de nenhuma maneira estou aqui a colocar em causa o milagre de Jesus. Acredito em milagres pois já os vi acontecer na minha vida.

Ainda mais, que a multiplicação se deu logo após à incredulidade dos judeus quanto ao seu poder e autoridade. Jesus usa da multiplicação para provar mais uma vez que os doutores da lei estavam errados nos seus julgamentos acerca de Jesus.

Porém, há que fazer uma leitura acerca disto da multidão, não ficar ali, passiva, e ao sentar-se, também cada qual, colocar à disposição dos outros, o que tinha. E isto é um verdadeiro milagre pois Jesus multiplicou os pães, os peixes e também a caridade entre todos.

E ao fim, ainda sobraram cestos de comida…

"Quando se saciaram, disse aos seus discípulos: «Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca». Recolheram-nos, então, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada que sobejaram aos que tinham estado a comer. Aquela gente, ao ver o sinal milagroso que Jesus tinha feito, dizia: «Este é realmente o Profeta que devia vir ao mundo!» Por isso, Jesus, sabendo que viriam arrebatá-lo para o fazerem rei, retirou-se de novo, sozinho, para o monte."(João 6, 12-15)

Há uma preocupação de Jesus na recolha de todos os restos, pois nada se deve perder. A má distribuição dos bens pela humanidade, o esbanjamento e o desperdício que se vê em algumas partes do mundo, não serão a causa das injustiças e da pobreza ?

Jesus mais uma vez me interroga com esta preocupação em recolher tudo, e não deixar que mais uma vez, cada qual, queira guardar para si, o que sobrou.

E depois, eis que a multidão, saciada, inclina-se para mais uma tendência humana que tanto se vê ainda nos tempos hodiernos.

O sinal milagroso os fez ver Jesus como “o Profeta que devia vir ao mundo”, e o quiseram fazer “rei”.

Infelizmente, temos esta tendência em dar aos outros a incumbência que cabe a cada um de nós. Fazer os outros "reis" para que eles nos governem, e assim não nos preocuparmos, e cada qual seguir a sua vida sem se importar com os restantes. E se se Jesus fazia milagres, então melhor, pois assim tudo seria bem mais facilitado para todos. Quando algo faltasse, era só pedir ao rei milagroso.

Jesus não veio a este mundo para que os seres humanos o usassem como desculpa para descartar as suas responsabilidades como agentes transformadores da realidade.

Por isso, há uma tendência em desejarmos um deus super-herói, que a cada injustiça ou mal, viesse do céu e assim impedisse as consequências das ações humanas. 

Esquecemos, muitas vezes, que Deus deu-nos a tal liberdade que nos faz ser responsáveis pelo que acontece, seja para o bem ou seja para o mal.

E não se trata apenas de nós mesmos, mas de olharmos para a multidão, que connosco escreve a história humana.

Jesus retirou-se para o monte pois não era isso que queria transmitir com a multiplicação dos pães.

Se virmos bem quais são os protagonistas deste milagre deparo-me com um rapaz desconhecido que entregou tudo o que tinha. E deste tudo, dado sem receio, Jesus multiplicou para o infinitamente incalculável.

A história do mundo é feita assim destas anónimas doações. São as pequenas gotas que enchem o oceano, e este oceano já não seria o mesmo se não fossem estas gotas como dizia a Santa Madre Teresa de Calcutá.

Por isso, Jesus convida-nos a colocar diante dos desafios da humanidade, os nossos poucos pães e peixes, que julgamos ser tão pouco para resolver o que se passa à nossa volta.

Jesus nos convida a sermos esta gota de bem na história da humanidade.

Bibliografia:
As passagens bíblicas foram consultadas em

Deixo aqui alguns artigos que me ajudaram a refletir neste artigo:










domingo, 3 de junho de 2018

Onde está a vossa fé?



Hoje meditei o capítulo 4 da 2ª Epistola de São Paulo aos Coríntios que fez parte da liturgia da Palavra da Santa Missa.

As palavras de São Paulo mais uma vez entraram em meu coração como flechas de luz a vencer todos os temores e dúvidas.

As palavras são tiradas de uma das treze cartas do Novo Testamento atribuídas ao apóstolo Paulo, sendo esta escrita aos Coríntios considerada proto-paulinas, ou seja, escrita pelo próprio Paulo.


As Cartas eram o único meio, ao alcance de Paulo para comunicar com as comunidades recentemente formadas.

“Por isso, investidos neste ministério que nos foi concedido por misericórdia, não perdemos a coragem, mas repudiamos os subterfúgios vergonhosos, não procedendo com astúcia nem adulterando a palavra de Deus, antes, pela manifestação da verdade, recomendando-nos à consciência de todos os homens diante de Deus.” (2Coríntios 4, 1- 2)

São Paulo lembra-me que existe um dom, este ministério conferido pela Palavra de Deus que não pode ser adulterado pela nossa vontade humana sujeita aos tais “subterfúgios vergonhosos” que muitas das vezes nos leva para longe da vontade de Deus. Paulo usa uma palavra forte “vergonhosos” como que dar uma chamada de atenção forte para depois prosseguir a sua carta aos Coríntios.

“Mas esta «relação íntima e vital que une o homem a Deus»(1) pode ser esquecida, desconhecida e até explicitamente rejeitada pelo homem. Tais atitudes podem ter origens diversas (2) a revolta contra o mal existente no mundo, a ignorância ou a indiferença religiosas, as preocupações do mundo e das riquezas (Cf. Mt 13, 22 ), o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento hostis à religião e, finalmente, a atitude do homem pecador que, por medo, se esconde de Deus (Cf. Gn 3, 8-10) e foge quando Ele o chama (Cf. Jn 1, 3).” (Catecismo da Igreja Católica nº. 29)

A vida diária neste mundo visível de muitos caminhos e opções oferece-nos acesso a várias ideologias e opiniões, nem sempre eficazes ou experimentadas no decorrer do tempo. Por vezes, os interesses económicos sobrepõem-se ao que é bom e válido.

“Se, entretanto, o nosso Evangelho continuar velado, está velado para os que se perdem, para os incrédulos, cuja inteligência o deus deste mundo cegou, a fim de não verem brilhar a luz do Evangelho da glória de Cristo, que é imagem de Deus.” (2Coríntios 4, 3- 4)

O que Paulo nos alerta é que há um “deus deste mundo” que cega e não nos deixa ver a  ”luz do Evangelho da glória de Cristo”. Aliás, Paulo diz mesmo que este Evangelho é a própria imagem de Deus. O Evangelho é esta “Boa Nova” transmitida por Cristo na sua própria pessoa, como Filho de Deus, enquanto viveu neste mundo.

É por isso que o homem tem necessidade de ser esclarecido pela Revelação de Deus, não somente no que diz respeito ao que excede o seu entendimento, mas também sobre «as verdades religiosas e morais que, de si, não são inacessíveis à razão, para que possam ser, no estado actual do género humano, conhecidas por todos sem dificuldade, com uma certeza firme e sem mistura de erro» (3). (Catecismo da Igreja Católica nº. 38)

“Pois, não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos vossos servos, por amor de Jesus. Porque o Deus que disse: das trevas brilhe a luz, foi quem brilhou nos nossos corações, para irradiar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo. Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não é nosso.” (2Coríntios 4, 5- 7)

O que pregamos não pode vir de nós mesmos, mas sim devemos apenas falar do próprio Jesus, que nos deu o “conhecimento da glória de Deus”. Porém, somos uns simples “vasos de barro”, tão frágeis que guarda este tesouro imenso que é o próprio Cristo. Por isso não podemos falar do que vem de nós mesmos, mas apenas o que disse Jesus pois só assim se manifestará o poder de Deus em nossa vida.

“A transmissão da fé cristã é, antes de mais, o anúncio de Jesus Cristo, para Levar à fé n'Ele. Desde o princípio, os primeiros discípulos arderam no desejo de anunciar Cristo: «Nós é que não podemos deixar de dizer o que vimos e escutámos» (Act 4, 20). E convidam os homens de todos os tempos a entrar na alegria da sua comunhão com Cristo: «O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram acerca do Verbo da vida, é o que nós vos anunciamos, pois a vida manifestou-Se e nós vimo-la e dela damos testemunho: nós vos anunciamos a vida eterna que estava junto do Pai e nos foi manifestada. Nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos, para que estejais também em comunhão connosco. E a comunhão em que estamos é com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo. E escrevemos tudo isto para a nossa alegria ser completa» (1 Jo, 1, 1-4). (Catecismo da Igreja Católica nº. 425)


“Em tudo somos atribulados, mas não esmagados; confundidos, mas não desesperados; perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não aniquilados. Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo. Estando ainda vivos, estamos continuamente expostos à morte por causa de Jesus, para que a vida de Jesus seja manifesta também na nossa carne mortal. Assim, em nós opera a morte, e em vós a vida." (2Coríntios 4, 8- 12)

Estas palavras de Paulo encheram o meu coração de esperança porque, apesar de tudo, há em nós este permanecer firme, apesar do que nos possa acontecer.

Ousamos falar de Cristo aos outros e isso pode ser causa de tribulação, confusão, perseguição e abatimento que nos é infligido pelo deus deste mundo e seus seguidores. À imagem de Cristo na Cruz, o deus deste mundo não nos poupará pois sabe que o poder da luz de Cristo, com suas Palavras arrasta e converte muitas almas e as afasta do mal. São Paulo viveu isso em sua própria vida, desde que aceitou ser apóstolo do Cristo que antes perseguia. Está aqui em causa, uma luta pela vida, a verdadeira vida que Cristo nos veio anunciar.

A certeza de que a vida em Cristo refrigera as nossas dores e abraça-nos numa tranquilidade que apenas a fé poderá explicar.

“Animados do mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: Acreditei e por isso falei, também nós acreditamos e por isso falamos, sabendo que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos há-de ressuscitar com Jesus, e nos fará comparecer diante dele junto de vós. E tudo isto faço por vós, para que a graça, multiplicando-se na comunidade, faça aumentar a acção de graças, para a glória de Deus.” (2Coríntios 4, 13- 15)


Devemos estar animados no “espírito de fé” pois a Ressurreição de Cristo é a nossa maior alegria, pois a graça de ter igual esperança deve aumentar a nossa Ação de graças, a todo o momento, apesar de todas as tribulações que passamos neste mundo.

Por isso, não desfalecemos, e mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia. Com efeito, a nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida. Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas." (2Coríntios 4, 16- 18)

São Paulo convida-me a ver a realidade deste mundo visível como passageiro, enquanto a eternidade que Cristo nos ensinou está no que está invisível. Por isso, apesar das maiores dores que hoje me possam atormentar, tenho diante de mim a presença de Deus e toda a eternidade ao lado desta paz indescritível que só se encontra Nele. Porém este percurso com Deus inicia-se ainda nesta terra, renovando-me, agora, neste momento, no dia após dia, apesar de todas as dores, angústias e perseguições que me possam abater.

Quando penso nos primeiros cristãos que no tempo do apóstolo Paulo eram levados para as prisões, condenados à morte, das formas mais dolorosas, e mesmo assim, não desanimavam e nem desistiam da sua fé.

Esta palavra me interroga sobre a minha fé. Com as tribulações do dia a dia serei capaz de prosseguir sem me deixar cegar pelos cuidados deste mundo? Será que estou atenta aos pequenos sacrifícios do dia a dia, oferecendo-os pela conversão das almas que estão afastadas da luz de Deus assim como o fizeram os três pastorinhos de Fátima?  Não precisamos buscar sacrifícios para além dos que nos sucedem dia após dia.

Cada cristão tem este tesouro dentro de si, capaz de revigorar corações e libertar as cadeiras das trevas que abatem a existência terrena. Este grande tesouro é o que nos faz ter esperança quando outros já a perderam. 

Pela lógica do mundo, dizem-nos que somos os que levam o leme do nosso barco da vida, e é verdade. Porém, o barco navega no mar de circunstâncias e opções diárias, numa linha do tempo que nos oferece a eternidade, mas engana-se quem pensa que sozinho consegue guiar-se neste mar infinito e escuro. No céu, estão lá as estrelas que guiam também os navegantes, e como é bom, quando temos a luz de Deus na nossa vida a guiar os nossos passos, com o Espírito Santo e as palavras de Jesus Cristo.


Este é o tesouro magnífico dos que deixam Deus entrar nas suas vidas, permitindo que Ele também leve o leme, especialmente nos momentos de tempestade.

Termino esta reflexão, lembrando-me de uma passagem bíblica que relata quando Jesus dormia no barco, enquanto os apóstolos temiam por causa de uma tempestade que os arrastava.

Os apóstolos acordaram Jesus porque julgavam estar tudo perdido. Jesus acordou e com simples palavras calou a tempestade. Depois indaga os apóstolos: “Onde está a vossa fé?”

Jesus dormia em meio à tempestade pois deixava-se sempre nas mãos de Deus, seu Pai.
Então, em meio às tempestades da vida, Jesus Jesus também pergunta-me: “Onde está a vossa fé?”

“Certo dia, Jesus subiu com os seus discípulos para um barco e disse-lhes: «Passemos à outra margem do lago.» E fizeram-se ao largo. Enquanto navegavam, adormeceu. Um turbilhão de vento caiu sobre o lago, e eles ficaram inundados e em perigo. Aproximaram-se dele e, despertando-o, disseram: «Mestre, Mestre, estamos perdidos!» E Ele, levantando-se, ameaçou o vento e as águas, que se acalmaram; e veio a bonança. Disse-lhes depois: «Onde está a vossa fé?» Cheios de medo e admirados, diziam entre eles: «Quem é este homem, que até manda nos ventos e nas águas, e eles obedecem-lhe?»
(Lucas 8, 22-25)



As passagens bíblicas e pormenores históricos foram consultados em

O Catecismo da Igreja Católica foi consultado em:

Fotos  de Rosária Grácio

Pinturas de Gráccio Caetano

Referências:
1. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et Spes,, 19: AAS 58 (1966) 1039.

2. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et Spes, 19-21: AAS 58 (1966) 1038-1042.

3. Ibid., DS 3876. Cf. I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Filius. c. 2: DS 3005; II Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Verbum. 6: AAS 58 (1966) 819-820; São Tomás de Aquino, Summa theologiae, I, q. 1, a. 1, c.: Ed. Leon. 4. 6.