sábado, 15 de fevereiro de 2020

O Filho Pródigo


Senhor, recebi o batismo na tua Santa Igreja Católica e pela catequese aprendi que Deus é amor e misericórdia. Após estar em tua casa, comungar da tua Presença Real na Eucaristia, ter de Ti tantos dons e graças, comparava-as com o que via no mundo fora da tua casa e pesava humanamente estas dádivas eternas como se fossem iguais às do mundo perecível. Apesar de trabalhar em teus campos, fervorosamente ao Teu Lado e na Tua Companhia, semear a tua Palavra, saboreando-a na minha vida, julguei que era injusto não ter a oportunidade de andar livre no mundo. Os bens materiais, com a sua opulência e a “felicidade”, pareciam-me ser reais e maiores do que a felicidade na Tua Presença.

Ah, suspirei ir ver este mundo que do lado de fora da Tua Casa, Senhor, brilhava oferecendo as suas luzes de racionalidade e de questionamento que me faziam tão senhor do bem e do mal sem estar sob o comando de um Deus com seus mandamentos intocáveis ao longo de anos.

E então, dentro de mim, crescia uma vontade de ir ver esse tal mundo que fora da tua casa, Senhor, me piscava para conhecê-lo melhor, vivendo em seu meio. Se toda a criação é feita por Ti, meu Deus, deixa-me viver neste mundo material, diversificado, onde possa aprender para além do que me ensinaste, Senhor.

Também mereço viver esta felicidade de que tantos falam. Já tantos anos te Servi, meu Deus.


Preciso de um descanso. Preciso de viver a minha vida, ser alguém neste mundo, realizar os meus sonhos, ser feliz e viver o que tantos outros me contam da janela do
mundo onde espreito.

Também mereço, meu Deus, beber de outras águas, comer de outras ideologias, experimentar novos caminhos sem estar sempre diante da tua cruz.

E chegou o dia em que me enchi de coragem e disse a meu Pai e Senhor: - Dá-me a parte que cabe na minha herança! E sim, Deus fez-me a vontade e deu-me a parte que me cabia na minha herança para a gastar no mundo.

Saí feliz, julguei-me finalmente livre das amarras que durante anos julguei ter na tua Casa. Finalmente livre, andei pelo mundo, vivi as suas delícias, usando todos os dons que Tu, Meu Deus me tinhas dado. Encontrei tantos que nem em Ti

acreditavam e pareceu-me que eram tão felizes, tão amigos, tão realizados nas suas vidas e escolhas. Para quê ficar na Casa de Deus, se o mundo oferece o mesmo com tantos gozos sem tantas obrigações e sacrifícios pela salvação da alma e por um reino que não é deste mundo?

E realmente vivi e andei pelo mundo, aprendendo várias “verdades”, caminhos e vidas, por vezes tão distantes do que me tinhas ensinado, meu Deus. E julguei que todos tinham encontrado a sua própria felicidade e que era justo que cada qual usufruísse da sua vida como desejasse.

Porém, o tempo foi passando e esta ânsia que aqui dentro ardia, queimava por mais e mais desejos que por mais que os realizasse, nunca os satisfazia. Aos poucos percebi que os dons que me tinhas dado, apesar de tão bons, e por mais bens materiais que ganhava, tudo julgava pouco.

Tudo neste mundo material era temporário, escorregadio e um dia se acabaria. E para além disso, esta correria entre a ambição e as paixões momentâneas, deixavam um rastro de

vazio, uma suposta felicidade que quando realizada,  era fonte de mais e mais paixões que se acumulavam umas às outras, sem fim, sem nunca me satisfazer.

 E as forças do meu corpo, sua vanglória e firmeza foram-se esbatendo com o passar dos anos. As tempestades foram surgindo, e a casa material que construí na areia junto ao mar dos meus sonhos materiais foi sendo arrastada pelas ondas instáveis da vida.

A dada altura, perdi tudo, e pensei que ainda tinha a amizade dos que andavam ao meu lado, nas festas e realizações da vida. Quando busquei ajuda, os que julgava amigos, aperceberam-se da minha miséria e afastaram-se de mim. Mesmo entre aqueles que um dia tinha repartido o meu pão, agora não queriam repartir comigo o que tinham, pois, no seu apego à riqueza, não vendo que de mim, algum dia, teriam retorno do que me dariam, mandaram-me embora.

A necessidade me fez suplicar trabalhar como escravo, mesmo na maior humilhação, e mal me podia alimentar no dia a dia. Trabalhava todos os dias, horas e horas, nos patrões deste mundo, mas o que recebia era tão pouco, que mal me alimentava. Mendiguei as migalhas, suspirei pelo que era jogado no lixo, pois a miséria tinha abraçado a minha vida.

Foi nesta solidão de mim mesmo, nestas mãos vazias que olhei para o céu e apercebi-me que eu tinha dignidade, pois tinha um Pai, uma Casa, onde um dia vivera realmente na plena satisfação da alma e do espírito.

Como tinha sido ingrato com o meu Pai e Senhor da minha vida. Eu dissipei teus bens neste mundo quando contigo, tinha bem mais, e cuidavas de mim.

Será que me aceitarias de volta?

Uma luz dentro de mim começava a iluminar um caminho. Lembrei da casa do Meu Pai, onde trabalhava, e justamente, via os campos plantados crescerem e darem o seu fruto, e todos comiam, e nenhuma necessidade se sentia em tua Presença Senhor.

Senti fome e sede de Deus.

Senti fome da Eucaristia, desta tua Presença Real entre nós até os nossos dias.

Senti sede de ouvir a tua Palavra, e deixar-me novamente invadir por sua luz.

Porém, antes precisava pedir-te perdão. Queria confessar-te tudo o que de mal fiz, os bens que tinha dissipado, os erros que me tinham enredado, as misérias onde me tinham afogado nos precipícios do mundo.

O mundo que não vivia segundo a tua Lei eterna e imutável, oferecia-me uma justiça aparentemente igualitária na posse de tantas coisas, mas estas coisas, não se multiplicavam como os teus dons espirituais. As coisas que o mundo me tinha oferecido, condicionavam-se a mais e mais amarras, correntes invisíveis que depois de me amarrar aos seus caprichos, deixou-me sem nada, nem mesmo com os dons que Tu, meu Deus me tinhas dado.


E assim voltava para a tua casa Senhor de mãos vazias com o perdão nos meus lábios e a firme resolução de me oferecer como simples servo.

Não queria já ser tratado como filho. Aceita-me Pai como um simples empregado, pois volto para a tua casa, sem os bens que me deste. Pensava assim no íntimo do meu coração.

Ainda longe estava da tua Casa quando me vistes, Senhor, meu Pai,  e fostes, sem hesitar, ao meu encontro.

Temi que não me recebesses e a teus pés, pedi perdão, suplicando que me aceitasses de volta, nem que seja como um simples empregado pois já não era digno de ser chamado teu filho.

Então teu olhar repousou sobre mim. Os teus braços abraçaram o frio da minha pouca fé. Tuas mãos agarraram nas minhas, como amparo, sentindo ainda mais o teu abraço, Meu Pai. Levaste-me rapidamente para a Tua casa e sem hesitar, fizeste-me novamente entrar em Tua Presença. Tu me destes roupas novas para vestir, retirando as miseráveis que tinha trazido do mundo, e colocastes em meus pés, sandálias novas para que começasse a andar em teu Caminho, Verdade e Vida sem mais hesitar. Confessei os meus pecados, e em meus dedos, colocaste um anel, símbolo da minha dignidade como teu filho que julgava ter perdido. Meu Pai pediu aos seus servos que me preparassem uma festa, matassem um novilho gordo e todos estavam convidados para uma grande festa em honra por meu retorno à Casa do Pai. Meu Pai estava feliz e dizia a todos que devia-se fazer festa pois estava morto e revivi.

Meu irmão mais velho que tinha ficado na Casa do Meu Pai e que nunca O tinha abandonado, quando retornou do seu trabalho diário, indignou-se com este Perdão sem limites de Meu Pai diante do filho pródigo que voltava à Casa do Pai, perdoando-o.

Como pode o Pai perdoar um filho ingrato que dissipou os seus bens no mundo durante anos e depois faz-lhe uma grande festa porque retornou? A mim, filho fiel que nunca Te

abandonei, nunca me fizeste uma festa para estar com os meus amigos… - disse o meu irmão zangado para o meu Pai.

E com razão, meu irmão mais velho, tinha trabalhado fielmente todos estes anos sem que uma festa lhe fosse feita. E agora o seu Pai faz uma grande festa por este filho que retorna, ainda de mãos vazias, e após deitar aos pés de Deus, a sua miséria?

O Pai respondeu-lhe: “Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.


Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado.”

Foi então que percebi que longe de Deus, estava morto… morto como todas os bens sujeitos à morte que eu ambicionava… Aqui na casa do meu Pai, onde os bens são eternos, que a traça e nem os vermes comem e corrompem, recomeçava a viver …

No Evangelho de São Lucas, Capítulo 15, 11-32, Jesus conta a história de um filho que pede a sua parte da herança para a gastar no mundo. E após este filho gastar toda a sua

herança, retorna para a casa do Pai, que o recebe em grande festa. Porém o outro filho que nunca tinha abandonado o seu Pai, ficou chateado por uma festa ter sido feita por causa de um filho que gastou toda a sua herança.

Quando somos batizados na Igreja Católica podemos ser um destes dois filhos.

O filho pródigo é aquele que depois de batizado, e mesmo após conhecer o Evangelho de Cristo, resolve voltar a viver no mundo, como se desconhecesse os ensinamentos de Cristo e os mandamentos de Deus, acreditando e aderindo a doutrinas e ideologias não cristãs.


O outro filho que nunca abandonou a casa do Pai, mas se chateia por ter sido perdoado o filho pródigo que volta arrependido, é aquele que não se compadece pela perda de

tantas almas que estão longe de Deus e por isso, não reza e não faz sacrifícios pela salvação destas almas, nem tem misericórdia por quem verdadeiramente se arrepende e quer retornar a viver o Evangelho de Cristo.

Por vezes, pensamos que devemos conhecer outras religiões, outras ideologias e crenças, e que Cristo não nos dá toda a plena verdade.

Estamos num mundo cada vez mais desejoso da globalidade de tudo, em que todos querem abraçar o mundo, perdendo de vista o mais próximo.

Infelizmente, a complexidade da vida moderna deixa-nos sempre mais e mais presos às necessidades materiais que não nos satisfazem espiritualmente.

Esta parábola do filho pródigo alerta-nos para este vazio do mundo material.

Porém, quem está na fé, também deve rezar e se preocupar com quem está perdido e em pecado,

Nossa Senhora tem avisado desta necessidade de rezar pelos pecadores  nas suas aparições. É um verdadeiro mistério que nos foge à compreensão humana, em que a minha oração e sacrifício poderá salvar almas e levar à conversão de muitos.

Por isso, na história do filho pródigo, também o irmão mais velho que já está na casa do Pai e que sempre lhe foi fiel, tem também muito a santificar-se nesta preocupação pela salvação dos pecadores e dos que andam desviados da Verdade de Cristo.

Assim disse Nossa Senhora a Bernardete Soubirous, de 14 anos, em Lourdes, França, a 24 de fevereiro de 1858 :
“Reza a Deus pelos pecadores!
Penitência! Penitência! Penitência!
Beija a terra em penitência pela conversão dos pecadores!"

Quando leio a história de Santa Bernardete e de sua humildade, sinto-me sim, uma filha pródiga que tantas vezes abandonou os caminhos de Deus por egoísmo e amor às coisas do mundo. Só Deus é capaz de curar o nosso coração para santificar o nosso coração por misericórdia e não por merecimento. Convido a todos a lerem a vida dos santos e neles aperceberem-se de quanto distantes estamos da Vontade de Deus se não vivermos realmente Amando a Deus nos nossos pensamentos, sentimentos e ações dia após dia.
Convido-vos a ver e aprofundar um pouco sobre Santa Bernadete e Nossa Senhora de Lourdes nos vídeos do meu canal em