terça-feira, 29 de agosto de 2017

Sou uma pessoa de primavera ou de outono?



Sou uma pessoa de primavera ou de outono?”. De primavera, que espera a flor, que aguarda o fruto, que se põe à espera do sol que é Jesus, ou de outono, sempre cabisbaixo, amargurado e, como às vezes eu disse, com a cara de pimenta avinagrada.” (Palavras do Papa Francisco no dia 23 de agosto de 2017 na sua audiência geral de quarta-feira).

Esta pergunta do Papa Francisco inquietou-me. 

Nos últimos tempos, temos vivido momentos de instabilidade social, política e até mesmo cultural em todo o mundo.

O ser humano inquieta-se com o futuro e ao mesmo este futuro parece sem esperança...


Se vermos as catástrofes ambientais que inundam o planeta, se prestarmos atenção aos atentados e às perseguições, que mesmo em sociedades ditas civilizadas estão a decorrer, sentimos-nos sem esperança no futuro...

Ter esperança neste mundo de tantas lutas e contradições, parece cada vez mais utópico a cada dia.  Porém, é agora, nestes tempos tão conturbados, em que a esperança é realmente crer naquilo que não se vê.

O que é ter esperança?

"Foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que ele (Abraão) acreditou e assim se tornou pai de muitos povos, conforme o que tinha sido dito: Assim será a tua descendência". (Romanos 4, 18)

A história de Abrão e de muitos outros personagens bíblicos (Jó, Tobias, etc), nos indicam o quanto a esperança tem a força necessária para vencer todas as contrariedades.

A esperança é uma das três virtudes teologais.

"As virtudes teologais fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão, informam e vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para os tornar capazes de proceder como filhos seus e assim merecerem a vida eterna. São o penhor da presença e da acção do Espírito Santo nas faculdades do ser humano. São três as virtudes teologais: fé, esperança e caridade".(Cf. 1 Cor 13, 13.). (Catecismo da Igreja Católica nº 1813)


Ter esperança é acreditar, antes mesmo de se ver, ou de acontecer… A esperança reside nesta confiança plena em Deus, mesmo e apesar de quaisquer ventos contrários.

"Tu és a minha esperança, ó Senhor DEUS, e a minha confiança desde a juventude. Em ti me apoio desde o seio materno, desde o ventre materno és o meu protector; és o objecto contínuo do meu louvor.” (Salmos 71(70), 5-6)"

Assim disse o Papa Francisco na Audiência Geral de Quarta-feira no dia 31 de maio de 2017: “A Carta aos Hebreus compara a esperança a uma âncora (cf. 6, 18-19); a esta imagem podemos acrescentar a da vela. Se a âncora é o que dá à barca a segurança e a mantém “na corada” entre as ondas do mar, ao contrário a vela é o que a faz caminhar e avançar sobre as águas. A esperança é deveras como uma vela; ela recolhe o vento do Espírito Santo e transforma-o em força motriz que impele a barca, dependendo das circunstâncias, ao largo ou à beira-mar.


Jesus ensinou-nos a ter esperança, aliás toda a sua vida na terra foi alicerçada na esperança. As bem-aventuranças nascem do Seu coração cheio de esperança.

"A esperança cristã manifesta-se, desde o princípio da pregação de Jesus, no anúncio das bem-aventuranças. As bem-aventuranças elevam a nossa esperança para o céu, como nova terra prometida e traçam-lhe o caminho através das provações que aguardam os discípulos de Jesus. Mas, pelos méritos do mesmo Jesus Cristo e da sua paixão, Deus guarda-nos na «esperança que não engana» (Rm 5, 5). A esperança é «a âncora da alma, inabalável e segura» que penetra [...]«onde entrou Jesus como nosso precursor» (Heb 6, 19-20). É também uma arma que nos protege no combate da salvação: «Revistamo-nos com a couraça da fé e da caridade, com o capacete da esperança da salvação» (1 Ts 5, 8). Proporciona-nos alegria, mesmo no meio da provação: «alegres na esperança, pacientes na tribulação» (Rm 12, 12). Exprime-se e nutre-se na oração, particularmente na oração do Pai-Nosso, resumo de tudo o que a esperança nos faz desejar." (Catecismo da Igreja Católica nº 1820)

A oração do Pai-Nosso traz em si mesma esta confiança em Deus, Nosso Pai, e é esta a esperança que deve nutrir o nosso coração ainda mais nestes tempos conturbados.

Se cremos que Deus é nosso Pai ao rezar o Pai-Nosso, então devemos ter esperança, orando em todo o tempo e lugar, sem nos deixarmos invadir pelas perdas terrenas.


Na passada semana estive a ver o filme da vida de Santa Teresa de Ávila e um dos momentos que mais me impressionou, foi quando no fim da sua vida, Teresa já sem forças, ainda tinha uma grande vontade de fundar conventos com a regra primitiva das carmelitas. Nessa altura, parecia que todo o seu trabalho estava a cair, pois em alguns conventos já não viviam a rigidez da regra. Porém, a esperança destas pessoas santas, é este acreditar naquilo que parece perdido, esperar o florescer do que parece já ter acabado.

"Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração." (Romanos 12, 12)

Termino esta reflexão novamente com as palavras de Papa Francisco na sua audiência geral de quarta-feira de 23 de agosto de 2017:


Acreditamos e sabemos que a morte e o ódio não são as últimas palavras pronunciadas sobre a parábola da existência humana. Ser cristão implica uma nova perspetiva: um olhar cheio de esperança. Alguns julgam que a vida encerra todas as suas felicidades na juventude e no passado, e que o viver é uma lenta decadência. Outros ainda acham que as nossas alegrias são apenas episódicas e passageiras, e que na vida dos homens está inscrita a insensatez. Há aqueles que, diante de tantas calamidades, dizem: “Mas a vida não tem sentido. O nosso caminho é a insensatez”. Mas nós cristão não acreditamos nisto. Ao contrário, cremos que no horizonte do homem existe um sol que ilumina para sempre. Acreditamos que os nossos dias mais bonitos ainda devem chegar. Somos pessoas mais de primavera do que de outono. Gostaria de perguntar agora — cada qual responda no seu coração, em silêncio, mas responda — “Sou um homem, uma mulher, um jovem, uma jovem de primavera ou de outono? A minha alma está na primavera ou no outono?”. Cada um responda a si mesmo.” 

Neste momento, convido-te a rezar o Ato de Esperança:


Meu Deus, porque sois omnipotente, infinitamente misericordioso e fidelíssimo às Vossas promessas, eu espero da Vossa bondade que, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, nosso Salvador, me dareis a vida eterna e as graças necessárias para a alcançar, como prometestes aos que praticassem as boas obras, que eu me proponho realizar ajudado com o auxílio da Vossa divina graça. Senhor, minha esperança, na qual quero viver e morrer: jamais serei confundido. Ámen.

Bibliografia

Frases bíblicas consultadas em:
www.capuchinhos.org/biblia/index.php?title=2Ts_3


Catecismo da Igreja Católica:

As palavras do Papa Francisco foram consultadas em

Veja mais vídeos de orações católicas em:
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Fotografias de Rosária Grácio

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