domingo, 30 de abril de 2017

“Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.”



“Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5, 9)

Segundo o dicionário, “Pacificador” é “aquele que pacifica”. Esta palavra nasce da palavra “paz” e são pacíficos aqueles que forem amigos da paz e da ordem, pessoas tranquilas e sossegadas, que não gostam de criar conflitos ou problemas. No dicionário até se pode encontrar um termo sinónimo mais audaz: um pacífico é aquele que “não recorre à força armada”!

Por vezes, há quem diga que pela paz, até será lícito recorrer às armas. No entanto, penso que essa atitude contradiz totalmente a vontade de paz que dizem ter.

Claro que toda esta questão dos conflitos e discussões, não nos deve remeter a um silêncio de abstenção ou indiferença, perante o que está certo e o que está errado.

Também há que se entender que ao ser-se tranquilo e sossegado, não quer dizer que se deva estar cada qual no seu canto, a ver e a acenar à história, sem qualquer atitude ou posição.


Um pacificador, até diria, um verdadeiro pacífico, criará a paz não tanto pelas palavras, mas antes com as suas atitudes.

Nos nossos tempos, isto parece-nos uma utopia. Todos os dias deparamo-nos com situações tão injustas que por vezes, até dizemos que só pela guerra e violência, é possível fazer a justiça.

Eu mesma, penso assim algumas vezes, tendo em consideração tanta violência e atrocidade que vejo no mundo.

Mas será que a violência resolve alguma coisa? 

As duas guerras mundiais que a Europa conheceu no século XX, será que resolveram alguma coisa?

Os regimes ditatoriais que punem violentamente as posições contrárias foram, alguma vez, exemplos de justiça?

Pensando bem, nenhum dos conflitos, de que me lembro, resultou em paz. O que resultou foi numa “aparente paz” que pela força calou a alguns e deixou falar outros. 



A meu ver, todas as sociedades nascidas de uma guerra são exemplos de política ditatorial.

Diante destas perguntas acerca da paz e da guerra, deparo-me com o Papa Francisco.

Nos últimos anos, a Igreja Católica tem sido alvo de várias perseguições. Aliás, ela é uma das mais visadas pelos ataques suicidas dos extremistas muçulmanos. E para além disso, há sempre quem pense que a Igreja Católica é antiquada e que os seus valores já não interessam à sociedade moderna e avançada dos nossos tempos.

Quem está atento à perseguição religiosa no mundo sabe que no Egito, para além da ameaça à vida, também esta perseguição tem um caráter social, negando-se aos cristãos empregos e até mesmo impondo-se contra eles um boicote, a lembrar-me o que ocorreu aquando da perseguição aos judeus, efetuada pelo ditador Hitler, no século XX.

Porém diante destas cruéis perseguições a Cristo, Jesus chama-nos à paz:

Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5, 9)


Diante de tudo o que nos acontece e vemos neste mundo, temos que optar se queremos ser filhos de Deus ou não.

E apenas os pacificadores serão “chamados filhos de Deus”.

Esta bem-aventurança de Jesus fundamenta-se na Bíblia.

Aliás, esta escolha pela guerra e pela paz vem dos primeiros tempos dos patriarcas de Israel:

“Isaac pediu a protecção do SENHOR para a sua mulher, que era estéril. O SENHOR ouviu-o e Rebeca, sua mulher, concebeu. As crianças lutavam no seu seio, e ela disse: «Se isto devia suceder, para que havia eu de conceber?» E foi consultar o SENHOR, que lhe respondeu: «Duas nações estão no teu seio: dois povos sairão das tuas entranhas. Um prevalecerá sobre o outro, e o mais velho servirá o mais novo.» Quando chegou o tempo em que devia dar à luz, saíram dois gémeos do seu seio. O primeiro que nasceu era ruivo, todo coberto de pêlos como se fosse um manto, e por isso lhe deram o nome de Esaú. Depois, saiu o irmão, segurando com a mão o calcanhar de Esaú. E por isso lhe deram o nome de Jacob. Quando eles vieram ao mundo, Isaac tinha sessenta anos. As crianças cresceram. Esaú fez-se hábil caçador, um homem dos campos, ao passo que Jacob era um homem tranquilo, que habitava em tendas. Isaac preferia Esaú, porque gostava de caça, mas a ternura de Rebeca ia para Jacob.” (Gênesis 25, 21-28)

Quem conhece a história bíblica de Jacó e Esaú, que a todos recomendo ler, sabe bem como esta história irá terminar. Será muito complicado para Esaú, o primeiro, aquele considerado o escolhido para líder, ver-se, depois suplantado pela sabedoria pacificadora de Jacó.

Outro exemplo de vida bíblico encontra-se em Salomão que apesar do seu pai David ter sido um guerreiro próspero e vitorioso, a paz só foi vivida pelo povo de Israel no reinado de Salomão. David, ao fim da sua vida, assim disse ao seu filho:

Disse-lhe: «Meu filho, eu estava decidido a construir uma casa ao nome do Senhor, meu Deus. Mas a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: ‘Tu derramaste muito sangue e fizeste grandes guerras. Não construirás uma casa ao meu nome, pois derramaste, diante de mim, muito sangue sobre a terra. Nascer-te-á um filho que será um homem pacífico; dar-lhe-ei paz com todos os seus inimigos ao redor. O seu nome será Salomão e, nos seus dias, darei paz e calma a Israel. Ele edificará uma casa ao meu nome, será para mim um filho e Eu serei para ele um pai. Firmarei para sempre o trono da sua realeza sobre Israel.’ Portanto, que o Senhor esteja contigo, meu filho, para que prosperes e construas o templo do Senhor, teu Deus, segundo o que Ele disse de ti. Que o Senhor se digne conceder-te sabedoria e inteligência, quando te fizer reinar sobre Israel, para que observes a Lei do Senhor, teu Deus. Então, prosperarás, se te aplicares à observância das leis e dos mandamentos que o Senhor prescreveu a Moisés, para Israel. Sê forte e corajoso, não temas nem te amedrontes.” (I Crônicas 22, 7- 13)

Nos salmos, há também uma grande promessa de Deus:
Observa o homem honrado, repara no homem justo, porque o homem de paz terá descendência”. (Salmos 37(36), 37)

Quando Jesus manda os discípulos às cidades para pregarem a sua palavra, eis as suas recomendações:

Depois disto, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. Disse-lhes: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe. Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho. Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós." (São Lucas 10,1- 6)

Os apóstolos de Jesus perpetuaram esta missão de paz, mesmo em meio às furiosas perseguições dos primeiros tempos da Igreja. Assim disse São Pedro, o primeiro papa:

“Finalmente, tende todos o mesmo pensar e os mesmos sentimentos, o amor de irmãos, a misericórdia e a humildade. Não pagueis o mal com o mal, nem a injúria com a injúria; pelo contrário, respondei com palavras de bênção, pois a isto fostes chamados: a herdar uma bênção." (I São Pedro 3, 8- 9)



Ser pacífico, nos nossos tempos poderá parecer um desafio, que talvez vá para muito além do humanamente racional.

Porém, a história revela-nos que efetivamente, são os pacíficos que herdam uma verdadeira glória humana, pela sua memória que se torna eterna pelas gerações vindouras.


Efetivamente a paz de Deus não é a paz humana. 

A paz que vem de Deus ultrapassa toda a paz pensada e planeada pelos seres humanos. 

Por isso, Jesus disse a seus apóstolos: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se assuste.”(São João 14, 27) 

Bibliografia:

Informação do significado das palavras “pacificador” e “pacífico” consultada no site:

Para estar atualizado acerca da perseguição religiosa aos cristãos no mundo convido-vos a conhecer o site “Portas abertas – Servindo cristãos perseguidos” em:
www.portasabertas.org.br/

As pinturas apresentadas são originais pintados por Gráccio Caetano:
www.gracciocaetano.com


1 comentário:

  1. Simples e bem escrito. gostei.
    também tenho um blog com temas católicos.
    www.simplescomooar.blogspot.com

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