“Felizes os que choram, porque serão
consolados.” (Mateus 5, 4)
Esta segunda bem-aventurança consola-me.
Se repetir esta frase várias vezes, sinto que o
meu espírito fica realmente consolado.
Considero esta frase de Jesus como sendo
uma das suas frases de cura mais profundas apesar da sua simplicidade.
A simplicidade com que Jesus diz esta frase é a
chave que transforma a tristeza em alegria.
Sim, é verdade. Nada melhor que
ouvir esta frase quando estamos a passar grandes dificuldades, sejam corporais ou
espirituais.
“Faz-me
ouvir palavras de gozo e alegria e exultem estes ossos que trituraste.”
(Salmos 51(50),10)
A tristeza e a alegria acompanham a vida
humana.
Na maioria das vezes, é o choro que nos entra pela porta, quando não se realizam os nossos desejos e vontades.
Sentir alegria é um prazer que
buscamos constantemente.
Mas, afinal, quando é que sentimos o gozo da alegria?
Na nossa vida humana, vivemos numa intensa e
ansiosa busca pela alegria.
Toda a publicidade da televisão invoca esta
vontade de ser feliz.
Aliás, todos temos direito a sermos felizes… Pelo menos, este
desejo acompanha-nos conforme o momento que vivemos e apesar das conotações que
lhe são dadas que variam de pessoa para pessoa …
Porém, esta publicitada alegria funda-se
humanamente em coisas materiais. Ter um carro novo ou comprar um vestido da
moda… Comer aquela comida exótica ou viajar para tal país…
Enfim, toda a alegria que as propagandas dos
meios de comunicação apregoam vestem-se do aparente, do que é visível, do que é
percebido aos sentidos…
Mas será que esta é a alegria referida por Jesus
nas bem-aventuranças?
“Pois Tu dás uma alegria
maior ao meu coração do que a daqueles que têm trigo e vinho em
abundância.” (Salmos 4, 8)
Ao ler o que Jesus fazia e dizia nas palavras
bíblicas, apercebo-me de que a alegria tem um contexto mais amplo, para além do
material.
Jesus, pela sua vida e condição, não tinha
quaisquer motivos humanos para ser feliz.
Nasceu pobre, trabalhou como carpinteiro, umas
das profissões mais humildes do seu tempo… E quando começou a pregar a Palavra
de Deus, os doutores da Lei e os fariseus o ignoraram e o perseguiram
injustamente.
Os apóstolos que O seguiriam, em sua maioria,
eram pessoas igualmente pobres e simples. Não são conhecidos bens que lhe
pertençam para além da túnica que lhe foi retirada quando foi crucificado na
cruz.
Aliás, nos seus momentos mais tristes, foi
abandonado por quase todos.
E apesar disso, ainda aos pés da cruz, preocupa-se
com a sua mãe e a entrega aos cuidados do apóstolo João.
“Dá-me de novo a alegria
da tua salvação e sustenta-me com um espírito generoso.”
(Salmos 51(50), 14)
Jesus era feliz?
Pelas passagens bíblicas, percebo que Jesus era
imensamente feliz.
Só na alegria, é que Ele seria capaz de falar como falava e de
curar como Ele curava.
“É graças a esta
força do Espírito que os filhos de Deus podem dar fruto. Aquele que nos
enxertou na verdadeira Vide far-nos-á dar «os frutos do Espírito: caridade,
alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão,
auto-domínio» (Gl 5, 22-23). «O Espírito é a nossa vida»: quanto mais renunciarmos
a nós próprios (113), mais «caminharemos segundo o Espírito»”(Catecismo da Igreja Católica nº 736)
Pelos
frutos, conhece-se a árvore… (Mateus 12, 33)
E Jesus deixou um rastro de grande amor por
onde passou.
Tão grande amor e alegria cultivou que mesmo após mais de dois mil
anos do seu nascimento, ainda continuamos a falar de Jesus…
E Jesus nesta Bem-aventurança certamente falava
desta alegria que emana da força do espírito. Somente assim, pode-se
compreender a sua alegria perante tantas contrariedades pelas quais passou.
“Tu converteste o meu
pranto em festa, tiraste-me o luto e vestiste-me de júbilo.“ (Salmos
30(29),12)
Jesus vivia a simplicidade da vida humana,
ensinando-nos um caminho novo para chegarmos à verdadeira alegria.
Uma verdadeira alegria inunda-se de paz. E apenas
na paz, chegamos à alegria no espírito.
A alegria no espírito é superior a toda e
qualquer alegria humana.
Mas como chegar a esta alegria no espírito de
Deus?
A história de Tobias foi uma das histórias
bíblicas que mais me emocionou quando a li.
No livro bíblico do mesmo nome
Tobias, relata-se a história de um homem e de uma mulher que permaneceram fieis
a Deus, apesar das dificuldades.
Quando tudo parecia derrubar-se aos pés de
Tobias e de Sara, sua mulher, eis que um anjo foi colocado para guiar-lhes o
caminho da vitória.
Não poderei neste momento ater-me a contar esta
belíssima história que convido todos a ler, mas o que retenho da história de
Tobias, é que mesmo na solidão e na derrota a que nos propiciam as vontades
humanas, eis que Deus vem em socorro de quem lhe é fiel.
“Louvaram então o Deus do céu, dizendo: «Bendito sejas, ó Deus,
por toda a bênção pura; que te bendigam para sempre! Louvado sejas, pois deste-me alegria,
não permitindo que acontecesse o que eu esperava, mas trataste-nos conforme
a tua grande misericórdia. Louvado
sejas, Senhor, porque te compadeceste de dois filhos únicos. Derrama sobre
eles, Senhor, misericórdia e salvação, fazendo com que cheguem ao fim da sua
vida em alegria e graça.»” (Tobias
8,15-17)
Na Bíblia, o louvor a Deus é a fonte da alegria
dos que Nele creem.
“Em ti exultarei de
alegria e cantarei salmos ao teu nome, ó Altíssimo.” (Salmos 9, 3)
Quando Paulo e Silas foram presos por pregarem
a Palavra de Deus, mesmo com cadeias nos pés, sofrendo a fome e a sede no
desamparo frio da prisão eis que oram e louvam ao Senhor.
E deste imenso
louvor, eis que as portas da prisão se abrem…(Atos dos Apóstolos 16, 25 e ss.)
Esta alegria imensurável do espírito que
sobrepõe a qualquer limite humano é que nos enche da verdadeira felicidade.
Ter coisas que hoje são nossas e amanhã se
acabam como a erva que morre, não gera em nós a felicidade.
Se a felicidade estivesse em coisas, todos os
milionários do mundo estariam cheios de alegria…
A verdadeira felicidade extrapola este mar de
coisas materiais que julgamos trazer-nos gozo e alegria.
A verdadeira felicidade que Jesus me apresenta
não se encontra nos tronos dos reis e nem na riqueza que compra os bens
materiais.
Deus criou-nos para uma alegria livre em si
mesma.
Não existe alegria perfeita, se esta depende
daquela coisa ou de alguém para a satisfazer.
A alegria livre em si mesma, está na essência do
que sou, como filha de Deus.
Filha de Deus, sou, se encontro esta plenitude
da alegria não em mim mesma, mas em Deus.
Aprender a alegria de Deus é contempla-Lo,
deixando-se consolar pela Sua Palavra.
Pela fé em Deus, toda e qualquer tristeza é
consolada, porque saboreamos esta presença de Deus em tudo o que nos acontece,
confiando-nos em Deus, como um filho que sabe que o Pai só quer o melhor para o
seu filho.
“Depois
da criação, Deus não abandona a criatura a si mesma. Não só lhe dá o ser e o
existir, mas a cada instante a mantém no ser, lhe dá o agir e a conduz ao seu
termo. Reconhecer esta dependência total do Criador é fonte de sabedoria e de
liberdade, de alegria e de confiança: «Vós amais tudo quanto existe e não
tendes aversão a coisa alguma que fizestes: se tivésseis detestado alguma
criatura, não a teríeis formado. Como poderia manter-se qualquer coisa, se Vós
não quisésseis? Como é que ela poderia durar, se não a tivésseis chamado à
existência? Poupais tudo, porque tudo é vosso, ó Senhor, que amais a vida» (Sb
11, 24-26).” (Catecismo da Igreja católica nº 301).
Nada melhor que acabar esta reflexão com as
palavras de Maria, mãe de Jesus.
Estas palavras foram ditas no momento que
visitava a sua prima Isabel. (Lucas 1, 39-56)
Maria saiu de sua casa e subiu uma montanha para
ir ter com a sua prima que estava grávida.
Maria ao visitar a sua prima, fê-lo
por caridade, porque ia ajudar a sua prima que em idade avançada iria ter um
filho.
Foi neste ato humilde de serviço ao outro que Maria disse:
“A minha alma glorifica o Senhor e o meu
espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque pôs os olhos na humildade da sua
serva.
De hoje em diante, me chamarão
bem-aventurada todas as gerações.
O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo
é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração
em geração sobre aqueles que o temem.
Manifestou o poder do seu braço e
dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos e
exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens e aos ricos
despediu de mãos vazias.
Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da
sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua
descendência, para sempre.”
Bibliografia:
Pinturas de Gráccio Caetano - www.gracciocaetano.com
Gostei do blog.
ResponderEliminarTambém tenho um: www.simplescomooar.blogspot.com.br
Obrigada. Também já fui visitar o seu blogue e realmente devemos partilhar o bem que existe, especialmente quando temos fé em Deus.
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