domingo, 21 de abril de 2019

Qual é a minha pedra a ser removida, como se chama esta pedra?




Acompanhava a Santa Vigília Pascal pela televisão, quando o Papa Francisco em sua homilia, faz-me esta pergunta que indaga-me sobre as pedras com que me deparo no meu caminho… 

Qual é a minha pedra a ser removida, como se chama esta pedra?

Não é uma pergunta que possa oferecer soluções, mas certamente faz-nos confrontar e nomear as pedras que dizemos ter no nosso caminho.

“Muitas vezes, a esperança é obstruída pela pedra da falta de confiança. Quando se dá espaço à ideia de que tudo corre mal e que sempre vai de mal a pior, resignados, chegamos a crer que a morte seja mais forte que a vida e tornamo-nos cínicos e sarcásticos, portadores dum desânimo doentio. Pedra sobre pedra, construímos dentro de nós um monumento à insatisfação, o sepulcro da esperança. Lamentando-nos da vida, tornamos a vida dependente das lamentações e espiritualmente doente. Insinua-se, assim, uma espécie de psicologia do sepulcro: tudo termina ali, sem esperança de sair vivo. Mas, eis que surge a pergunta desafiadora da Páscoa: Porque buscais o Vivente entre os mortos? O Senhor não habita na resignação. Ressuscitou, não está lá; não O procures, onde nunca O encontrarás: não é Deus dos mortos, mas dos vivos (cf. Mt 22, 32). Não sepultes a esperança!” (Homilia do Papa Francisco na Vigília Pascal de 20 de abril de 2019)


Hoje quando abri a porta da minha casa à Visita Pascal e beijei a cruz senti-me abençoada por tantas graças que recebi ao longo da minha vida. Num segundo percebi que tantas e tantas vezes, julgava que tudo estava prestes a acabar e, no entanto, eis a ressurreição, o túmulo vazio onde a morte é vencida.

Nos últimos meses perdi pessoas muito queridas, amigas que me acompanharam nos últimos tempos, pessoas que viveram uma vida cheia de lutas e tantas pedras que quase as esmagaram.

“Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo. A tua vara e o teu cajado dão-me confiança.” (Salmos 23,4)


A vida, por vezes nos confronta com a nossa fragilidade, de que nada somos, e que por instante, ficamos sem nada, despidos de tudo que julgávamos ter.

Quando Jesus foi crucificado, Ele estava ali, despido de tudo, suas roupas foram divididas pelos soldados e o seu manto sorteado. No calvário, Jesus mostra-nos o que somos quando a doença e a morte se aproxima.

“Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, pegaram na roupa dele e fizeram quatro partes, uma para cada soldado, excepto a túnica. A túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo, não tinha costuras. Então, os soldados disseram uns aos outros: «Não a rasguemos; tiremo-la à sorte, para ver a quem tocará.» Assim se cumpriu a Escritura, que diz: Repartiram entre eles as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes.” (João 19,23-24)


Este nada é o que a morte e a doença nos traz, quer tenhamos muito ou pouco. Não existe distinção para os que têm muito, porque chegada esta hora, temos de sair desta vida com as mãos vazias.

Porém, quando Maria Madalena vai ao sepulcro onde colocaram o corpo de Jesus, no terceiro dia após a sua morte, eis que se depara com um túmulo vazio…

“No primeiro dia da semana, ao romper da alva, as mulheres foram ao sepulcro, levando os perfumes que haviam preparado. Encontraram removida a pedra da porta do sepulcro e, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. Estando elas perplexas com o caso, apareceram-lhes dois homens em trajes resplandecentes. Como estivessem amedrontadas e voltassem o rosto para o chão, eles disseram-lhes: «Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou! Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia, dizendo que o Filho do Homem havia de ser entregue às mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia.»”(Lucas 24, 1-7)


“Recordando Jesus, as mulheres deixam o sepulcro. A Páscoa ensina-nos que o crente se detém pouco no cemitério, porque é chamado a caminhar ao encontro do Vivente. Perguntemo-nos: na minha vida, para onde caminho? Sucede às vezes que o nosso pensamento se dirija continua e exclusivamente para os nossos problemas, que nunca faltam, e vamos ter com o Senhor apenas para nos ajudar. Mas, deste modo, são as nossas necessidades que nos orientam, não Jesus.” (Homilia do Papa Francisco na Vigília Pascal de 20 de abril de 2019)

Por vezes, fixamos-nos nos problemas, naquilo que nos mói por dentro… 

Lembro-me de uma parte do filme da  história de Santa Clara de Assis, quando a irmã Cecília, que estava no convento com Santa Clara, retorna após mendigar por comida … Só lhe deram bocados de pão duro para além das pedras que lhe atiraram e dos insultos que recebeu por ir mendigar, sendo ela de família rica e ter deixado tudo para ir para o convento. Enquanto a irmã Cecília chora e queixa-se da injustiça que sofreu, Santa Clara está a lavar-lhe e limpar-lhe os pés com muito amor, beijando-os ternamente. Por momentos, a irmã Cecília assusta-se por ver Santa Clara, na altura, a sua madre superiora a beijar-lhe humildemente os pés, e depois deste ato bíblico, a exemplo de Jesus, toda a queixa esgota-se…
Este momento do filme pode-se ver no minuto 29.21 do filme em

Esta parte do filme faz-me interrogar onde está a minha fé e esperança em Deus, se a cada pedra que me atiram, deixo-me curvar ou queixo-me amargamente?

Aconselho que vejam não só esta parte mas todo este filme sobre a santa Clara de Assis que nos propõe, que a vida em seu "tudo" ou em seu "nada" diante do nosso amor a Deus, especialmente quando se ama a Deus nos que nos estão próximos, o "nada" e o "tudo" ficam apenas dependente desse amor.

Jesus Ressuscitou e as pedras que me sepultam precisam ser retiradas, especialmente as que me podem matar para sempre:
  
“A Páscoa, irmãos e irmãs, é a festa da remoção das pedras. Deus remove as pedras mais duras, contra as quais vão embater esperanças e expetativas: a morte, o pecado, o medo, o mundanismo.  A história humana não acaba frente a uma pedra sepulcral, já que hoje mesmo descobre a «pedra viva» (cf. 1 Ped 2, 4): Jesus ressuscitado.” (Homilia do Papa Francisco na Vigília Pascal de 20 de abril de 2019)


Bibliografia:
Homilia do Papa Francisco na Vigília Pascal de 20/04/2019:

As passagens bíblicas foram retiradas do site:
capuchinhos.org/

Texto e fotos de autoria de Rosária Grácio

Pinturas de Gráccio Caetano
www.gracciocaetano.com
gracciocaetano.blogspot.pt




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