domingo, 23 de junho de 2019

Porquê esta dor, Senhor?




Uma das perguntas que mais me contrapõe nos tempos atuais é o porquê de tanto sofrimento na vida humana e no mundo, de tanta dor e angústia que me abate diariamente, e a dor é ainda maior quando atinge as pessoas que mais amo. Por vezes, quando julgo que finalmente posso descansar eis que me vem outra dor ou aflição de onde se menos espera e entro novamente na chamada “tribulação”.

Diante deste dilema, São Paulo na sua carta aos Romanos propõe-me um desafio nas seguintes palavras: “Mais ainda, gloriamo-nos nas nossas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz a constância, a constância a virtude sólida, a virtude sólida a esperança.” (Carta aos Romanos 5,3-4).

Aqui Paulo diz-me abertamente que a tribulação é o que me dará glória. Aliás, ainda bem que temos as tribulações pois é por meio destas que vamos ter a constância, a virtude sólida e a esperança.

Claro que estas palavras, inicialmente me parecem insólitas. Aliás, isto de “sofrer” nos nossos dias parece-nos despropositado e surreal. Porém ao olhar a realidade que vivo, se sair do campo espiritual, aprendo que igualmente nos outros sectores de vida humana, faz-se exatamente este percurso de sacrifício, de sofrimento, de dor, mas sobre uma capa de conveniência e de uma espécie de “tem de ser” porque se quer isto ou aquilo, alcançar certo objetivo material ou conquistar determinada posição social, há que passar esta ou aquela dificuldade.

Por exemplo, no campo profissional, quantos sacrifícios se fazem para se manter esta ou aquela posição e status. Se quisermos aquele posto de destaque, ou ganhar mais, temos de trabalhar mais e por vezes, muito para além do que a saúde nos permite. Deixamos de dormir para estudar ao máximo aquela vertente profissional para termos um curso superior ou apenas o conhecimento necessário para sermos “os melhores” na empresa, ou sermos o empresário de sucesso que desejamos ser para conseguirmos ganhar mais dinheiro e chegarmos ao ponto de destaque que almejamos, mesmo que custe o tempo com a nossa própria família, ou nos obrigue a trair as amizades que nos estorvam neste percurso, ou mesmo tenhamos que gastar todas as nossas economias para construir o almejado império profissional, em busca da tal “segurança financeira” futura.

Outro exemplo é o mundo do desporto. Quem deseja ser o melhor dos melhores tem de se esforçar. Muitos jogam futebol, mas só os “melhores” é que chegam a jogar nos clubes de futebol com maior destaque e destes, só um pequeno e reduzido número chega a ser uma “estrela internacional” ganhando milhões a jogar e com a venda da sua imagem de vencedor, alcançando medalhas para o seu país e o seu clube.

Um exemplo vivo disso é o jogador de futebol Cristiano Ronaldo, que recentemente, e mas uma vez, alcançou uma taça para Portugal, a chamada “Liga das Nações”. No último e decisivo jogo do campeonato não fez nenhum golo, mas bastou a sua presença para unir os seus colegas de equipa e alcançar todos os portugueses numa confiança superior, apesar dos grandes e poderosos  adversários que Portugal teve de vencer antes deste último jogo.

Quem conhece um pouco da vida de Cristiano Ronaldo, sabe que a sua vida, desde a sua infância não foi fácil. Sua mãe tentou aborta-lo, pois pensava que o não podia criar, tendo já três filhos e estando sozinha a cria-los. "Eu tinha três filhos e fiz de tudo para abortar quando fiquei grávida pela quarta vez. E era o Cristiano Ronaldo', diz, emocionada na manhã desta terça-feira em um hotel na zona sul de São Paulo. "Eu não tinha condições financeiras e foi Deus quem levou a gravidez adiante. Meu livro é uma mensagem para que todas as mulheres lutem e não desistam de seus filhos". (tentei-abortar-quando-estava-gravida-do-cristiano-ronaldo-diz-dona-dolores,70002319263)

Deixo no final deste artigo outros links das várias entrevistas feitas à mãe do Cristiano Ronaldo que são verdadeiras demonstrações de coragem e fé que dão muita esperança nos nossos dias.

A dúvida que teve a mãe de Cristiano Ronaldo, quando ainda grávida, indaga-me acerca do que hoje é útil ou inútil, descartável ou não, financeiramente rentável ou não, produtivo ou fracassado. 

Na vida, podemos estar diante de situações que à luz do dia de hoje parece-nos um prejuízo, um fracasso, um obstáculo. Mas a vida de pessoas como a mãe deste exemplar jogador de futebol mostra-nos que a tribulação é realmente um motivo de glória como diz São Paulo.

Se a mãe de Cristiano tivesse abortado o seu filho, toda a história tinha mudado com esta morte. Cada vida é única e imprescindível, a começar na história da própria mãe, família e sociedade, chegando ao mundo inteiro como foi o percurso de Cristiano Ronaldo.

Na vida, deparamos-mos com lutas, e julgamos que as nossas barreiras são intransponíveis quando a tempestade está no seu auge. O próprio Cristiano Ronaldo desde muito pequeno aprendeu o valor desta luta contínua diante da adversidade. Há até um vídeo que conta um resumo da sua história que deixo ao final deste artigo mas existem muitos outros vídeos sobre ele.

Mas o Cristiano Ronaldo é apenas um entre milhões de pessoas que lutam, e conseguem, mesmo sem nunca serem famosos e nem a sua história conhecida. 

Cada uma dessas pessoas aceita o desafio de cada dia, não voltando atrás aos compromissos que fizeram, ajudando os que estão ao seu lado. São pais fiéis ao seu compromisso em educar os seus filhos e também filhos a cuidar dos seus pais idosos, em suas casas, até os seus momentos de mais precária saúde ou fragilidade mental.

Infelizmente, nestes momentos de intensas contrariedades em que o vento se levanta contra nós, há sempre quem nos venha com “atalhos”, maneiras mais rápidas de solucionar ou pelo menos, nos ajudem a nos livrar da situação incómoda que temos.

Porém, os atalhos podem nos fazer chegar mais rapidamente ao que queremos mas a que custo? 

Será que todo aquele percurso de dor, do qual queremos fugir, é também um ensinamento, um manancial de bênçãos que deixaremos de usufruir no futuro?

Será que a barreira que nos atira ao chão é um prejuízo ou uma bênção para a nossa vida?

Mesmo que estas palavras não pareçam humanamente razoáveis ou economicamente favoráveis, quem somos nós para decidirmos o que é certo e errado, prejuízo e fraco, irrelevante e descartável neste mundo?

Cada vez mais países querem legalizar a eutanásia, havendo países como a Bélgica que permite também às crianças essa decisão. Houve até uma criança morta com injeção devido à sua doença, mesmo havendo pessoas em outros lugares do mundo com a mesma doença que vivem a sua vida normal se devidamente medicada. (www.gazetadopovo.com.br/ideias/belgica-e-o-primeiro-pais-do-mundo-a-submeter-criancas---de-qualquer-idade---a-eutanasia )

Recentemente uma jovem holandesa de apenas 17 anos pediu a morte assistida, o que se concretizou, tendo o Papa Francisco deixado a seguinte mensagem:
“A eutanásia e o suicídio assistido são uma derrota para todos. A resposta a que somos chamados é nunca abandonar aqueles que sofrem, não desistir, mas cuidar e amar para restaurar a esperança”.
(www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-06/papa-francisco-tuite-eutanasia-noa-pothoven-dom-vincenzo)

Desistir da vida é a uma verdadeira derrota. Ninguém está livre deste momento de dúvida em que diante de um precipício, temos a opção de nos lançarmos para o fundo dele ou simplesmente parar, recuperar forças e escala-lo, para vence-lo.

Não julgo esta jovem que pediu a morte, pois esta vontade de desistir é uma tentação de que ninguém está livre.

Ao mesmo tempo, existem muitos mais casos de pessoas que apesar das suas limitações físicas e até mentais que avançam, lutam e vencem. Sim é possível vencer este medo do "intransponível".

“«Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele. Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!»”(São Mateus 7, 13-14)

Termino este artigo com tantas outras lições de esperança que aqui e ali acontecem, que nos sacodem e diz-nos: Crê que é possível! Porquê paras no teu obstáculo?

Não posso apenas reter o meu olhar no Cristo que morre na cruz, pois também tenho de contemplar o Cristo ressuscitado que após a solidão de três dias no sepulcro anunciou aos apóstolos esta esperança que não morre com a morte corporal.

Convido-vos a ler cada uma destas notícias pois há esperança no mundo e essa "pedra" que hoje te parece invencível pode ser a tua grande vitória no futuro.

www.publico.pt/2019/04/02/sociedade/reportagem/trissomia-21-estao-ensino-superior
(Texto de autoria de Rosária Grácio)


Bibliografia;
O significado da palavra “tribulação” foi consultado no site:
www.infopedia.pt/

Fotos de Rosária Grácio.

Foto do Sagrado Coração de Jesus - Pintura sobre azulejo de Gráccio Caetano.

Algumas das entrevistas da mãe do Cristiano Ronaldo podem ser conhecidas nestes sites:






Veja aqui um pouco da vida de Cristiano Ronaldo

domingo, 19 de maio de 2019

“- Como pode este Jesus nos oferecer a sua carne para comermos?”





“- Como pode este Jesus nos oferecer a sua carne para comermos?” (João 6, 52)

Com esta pergunta, os judeus apresentavam-se diante de Jesus quando Dele ouviram o seguinte:
- Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre. Este pão é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo”.(João 6, 51)

A pergunta dos judeus ainda hoje é feita pelas pessoas do nosso tempo. Diante da Eucaristia, verdadeira carne e sangue de Jesus, apresenta-se muito além do que é possível crer, diante do pão e do vinho que em nada se altera visivelmente aos olhos humanos.

Sim, com facilidade, fala-se de um ditado chinês ou mesmo do que o horóscopo tem para dizer conforme o signo do zodíaco. Mas quando se fala da Bíblia, ou de qualquer outro tema cristão, especialmente conceitos católicos, há toda uma questão de dúvida que tem se colocar, porque nestes tempos não se deve estar apegado a estas crenças tão antigas, não fossem aquelas, muito mais supersticiosas,  do que baseadas em uma história real e concreta como o foi a vida da Jesus Cristo.

Por isso, não me surpreende que no tempo de Jesus, igualmente se tenha colocado em questão que um simples pão e vinho apresentem-se como verdadeira carne e sangue de Cristo.

A superstição cada vez mais impera no nosso tempo, e por isso, ainda hoje, a Eucaristia interroga e constrange muita gente. E a pergunta dos judeus tem continuado ao longo dos tempos, havendo até várias igrejas cristãs que acreditam em Jesus mas não acreditam e nem têm a Eucaristia.

Realmente, na nossa mente lógica, é difícil perceber isto de corpo e sangue de Cristo.

“Jesus lhes disse: “Eu digo a verdade: Se vocês não comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida.” (João 6, 53-55)

Desde a minha primeira comunhão, sinto que algo mais que pão entra na minha boca. No momento em que recebo a Eucaristia, uma força e paz interior envolve-me inteiramente. Desde cedo, percebia sem explicação racional, como tal momento da comunhão do Corpo e Sangue de Cristo é e sempre me foi tão intenso. 

Claro que houve quem me dissesse que a hóstia era apenas trigo, e então após esta constatação, ainda mais não percebia porque tal momento em que comungava era tão intenso.

"Os sinais essenciais do sacramento eucarístico são o pão de trigo e o vinho da videira, sobre os quais é invocada a bênção do Espírito Santo, e o sacerdote pronuncia as palavras da consagração ditas por Jesus durante a última ceia: «Isto é o meu corpo, que será entregue por vós... Este é o cálice do meu sangue...»." (Catecismo da Igreja Católica, nº 1412)

“Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” (João 6, 56)

Quando ouço estas palavras ditas pelo próprio Jesus, apercebo-me que é exatamente isso que sinto, quando comungo. Sinto a presença de Jesus em mim e neste momento tão pessoal e íntimo, converso com Ele de forma bem próxima.

“A sagrada Comunhão do corpo e sangue de Cristo aumenta a união do comungante com o Senhor perdoa-lhe os pecados veniais e preserva-o dos pecados graves. E uma vez que os laços da caridade entre o comungante e Cristo são reforçados, a recepção deste sacramento reforça a unidade da Igreja, corpo Místico de Cristo.” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1416)

Após comungar, por algum tempo, não tenho realmente vontade de comer pois sinto que a presença de Jesus me sacia inteiramente.

“Este é o pão que desceu dos céus. Os antepassados de vocês comeram o maná e morreram, mas aquele que se alimenta deste pão viverá para sempre”. (João 6, 58)


Alexandrina de Balazar, a partir do dia 27 de Março de 1942, viveu treze anos em jejum e anúria. O seu alimento foi exclusivamente a Eucaristia.

“Jesus declara-lhe «Não te alimentarás jamais na terra. O teu alimento é a Minha Carne; o teu sangue é o Meu Divino Sangue; a tua vida é a Minha vida, de Mim a recebes, quando te bafejo e acalento, quando uno ao teu o Meu Coração. Não quero que uses medicina, a não ser aquela a que não possas atribuir alimentação. Esta ordem é para o teu médico; será ele que toma a tua defesa. É grande milagre da tua vida.» (Sentimentos da Alma; 07/12/1946)

Um ano depois de Alexandrina ter começado o seu Jejum e anúria completo, em 1943, foi levada ao Hospital “Refúgio da Paralisia Infantil”, na Foz do Douro, onde ficou internada por quarenta dias para ser rigorosamente observada. Eis o relatório médico:

«É para nós inteiramente certo que, durante os quarenta dias de internamento, a doente não comeu nem bebeu; não urinou nem defecou, e esta circunstância leva-nos a crer que tais fenómenos possam vir a produzir-se de tempos anteriores.”

No dia 25 de abril de 2004, Alexandrina Maria da Costa foi beatificada em Roma pelo Papa S. João Paulo II. A partir desta data, tornou-se beata da Igreja universal.

Penso que a Beata Alexandrina de Balazar revelou em seu próprio corpo, o que a Eucaristia, corpo e sangue de Jesus opera no nosso corpo biológico. As palavras de Jesus mostram-se reais neste caso tão próximo aos nossos tempos e sem uma resposta científica que o possa justificar.

“Declarou-lhes Jesus: “Digo a verdade: Não foi Moisés quem deu a vocês pão do céu, mas é meu Pai quem dá a vocês o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo”. Disseram eles: “Senhor, dá-nos sempre desse pão!” Então Jesus declarou: “Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede.” (João 6, 32 -35)

Penso que estes sinais visíveis no mundo, são pequenas mechas de luz que Deus derrama na humanidade para demonstrar a verdade das palavras de Jesus.

Para além destes sinais na própria vida dos santos, também por todo o mundo existem milagres eucarísticos, alguns deles que impressionam pela sua precisão e especificidade, como se Deus preparasse para cada momento da história da humanidade, o sinal visível mais adequado às limitações causadas pela incredulidade humana, com o progresso científico.

Deixo ao fim deste texto, um link onde poderá conhecer mais em pormenor o que são estes milagres eucarísticos e como eles começaram no artigo intitulado: Milagres Eucarísticos: o que são e como começaram?

Mas por que Deus nos dá estes sinais?

“Mas, como eu disse, vocês me viram, mas ainda não creem. Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei. Pois desci dos céus, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. Porque a vontade de meu Pai é que todo aquele que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. (João 6, 36-40)

Deus nos ama tanto que deixou esta presença real de Jesus para que não nos percamos nas distrações do mundo e nem nos esqueçamos da nossa essência como criatura de Deus.

O modo da presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz dela «como que a perfeição da vida espiritual e o fim para que tendem todos os sacramentos» (São Tomás de Aquino, Summa theologiae 3, q. 73, a. 3, c: Ed. Leon. 12, 140.). 

"No santíssimo sacramento da Eucaristia estão «contidos, verdadeira, real e substancialmente, o corpo e o sangue, conjuntamente com a alma e a divindade de nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, Cristo completo» (Concílio de Trento, Sess. 13ª, Decretum de s.s. Eucharistia, can. 1: Ds 1651.). «Esta presença chama-se "real", não a título exclusivo como se as outras presenças não fossem "reais", mas por excelência, porque é substancial, e porque por ela se torna presente Cristo completo, Deus e homem» (Paulo VI, Enc. Mysterium fidei: AAS 57 (1965) 764.)." (Catecismo da Igreja Católica, nº 1374)

Diante das palavras de Jesus tão concretamente explíctas, acerca do seu corpo e sangue estarem no pão que dá a vida, muitos discípulos ficaram confusos e abandonaram Jesus…

“Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo. Jesus perguntou aos Doze: “Vocês também não querem ir?” Simão Pedro lhe respondeu: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus”. “(João 6, 66-69)

Ainda nos nossos tempos, muitos e até algumas das religiões cristãs  se escandalizam com estas palavras de Jesus e por isso, não aceitam a Eucaristia como corpo e sangue de Jesus, pois tais palavras são realmente “duras” à nossa racionalidade humana.

Ao ler os versículos anteriores do mesmo capítulo do Evangelho de São João, Jesus, antes de falar abertamente acerca deste “Pão da vida” que seria o seu próprio “corpo e sangue”, manifestou-se com alguns sinais que efetivamente vão para além da nossa racionalidade e limitação humana: Jesus faz a multiplicação dos pães e Jesus anda sobre as águas.

Nestes dois milagres, Jesus demonstra que Deus pode tudo, vence a limitação material e também a limitação humana. Se Deus multiplica alguns pães para saciar a multidão ou se anda sobre as águas para vir ter com os seus discípulos, então nada poderá deter a Vontade de Deus e a forma da sua ação no mundo, ainda mais que este mundo foi criado por Ele.

A Eucaristia é esta pérola de Deus, em que a cruz de Jesus é um sacrifício presente e atual em todas as missas que foram, que são ou serão celebradas até o fim dos tempos. Não nos iludamos que a missa é apenas mais uma celebração de encontro com Deus. Na verdade, o próprio Deus vem ao nosso encontro e espera por nós a cada celebração eucarística.

Deus quer estar conosco, da forma divina e eterna, fazendo-nos provar uma pequena gota do que nos espera, quando estivermos na Sua Presença.

O mundo visível dos sentidos, um dia, quer queiramos ou não, acabará. Mas esta eternidade de Deus, que Cristo nos trouxe, não tem tempo, nem se limita materialmente. A Eucaristia é esta gota de eternidade que Deus nos dá a provar a cada celebração Eucarística.  

Termino com esta profunda oração que o Padre Pio compôs para rezá-la depois de receber a Sagrada Comunhão, cujo o vídeo pode ser visto e ouvido neste link. Nesta oração, Padre Pio demonstra a fé na presença de Jesus na Santa Eucaristia e o seu desejo de que Jesus permanecesse para sempre em seu coração:

"Permanecei, Senhor, comigo, porque é necessária a Vossa presença para não Vos esquecer; sabeis quão facilmente Vos abandono.
Permanecei, Senhor, comigo, pois sou fraco e preciso da Vossa força para não cair tantas vezes;porque Vós sois a minha luz e sem Vós estou nas trevas;pois Vós sois a minha vida e sem Vós esmoreço no fervor;para me dares a conhecer a Vossa vontade;para que ouça a Vossa voz e Vos siga;pois desejo amar-Vos muito e estar sempre em Vossa companhia.Permanecei, Senhor, comigo, se quereis que Vos seja fiel.Permanecei, Senhor, comigo, porque, por mais pobre que seja minha alma, deseja ser para Vós um lugar de consolação e um ninho de amor.Permanecei, Jesus, comigo, pois é tarde e o dia declina… Isto é, a vida passa, a morte, o juízo, a eternidade se aproximam e é preciso refazer minhas forças para não me demorar no caminho, e para isso tenho necessidade de Vós.Já é tarde e a morte se aproxima. Temo as trevas, as tentações, a aridez, a cruz, os sofrimentos, e quanta necessidade tenho de Vós, meu Jesus, nesta noite de exílio.Permanecei, Jesus, comigo, porque nesta noite da vida, de perigos, preciso de Vós. Fazei que, como Vossos discípulos, Vos reconheça na fração do pão, isto é, que a comunhão eucarística seja a luz que dissipe as trevas, a força que me sustente e a única alegria do meu coração.Permanecei, Senhor, comigo, porque na hora da morte quero ficar unido a Vós, senão pela comunhão, ao menos pela graça e pelo amor.Permanecei, Jesus, comigo, não Vos peço consolações divinas porque não as mereço, mas o dom de Vossa presença, assim, Vo-lo peço.Permanecei, Senhor, comigo, é só a Vós que procuro, Vosso amor, Vossa graça, Vossa vontade, Vosso coração, Vosso Espírito, porque Vos amo e não peço outra recompensa senão amar-Vos mais. Com um amor firme, prático, amar-Vos de todo o meu coração na terra para continuar a Vos amar perfeitamente por toda a eternidade. Amém. "
(Texto de autoria de Rosária Grácio)



A vida de Alexandrina Balazar, o seu jejum e anúria, podem ser melhor conhecidos no site:

Neste artigo do site Padre Paulo Ricardo poderá conhecer melhor sobre os milagres Eucarísticos e como começaram:


 Os textos do Catecismo da Igreja Católica foram retirados do site:

O vídeo da oração do Padre Pio pode ser visto neste link:








domingo, 21 de abril de 2019

Qual é a minha pedra a ser removida, como se chama esta pedra?




Acompanhava a Santa Vigília Pascal pela televisão, quando o Papa Francisco em sua homilia, faz-me esta pergunta que indaga-me sobre as pedras com que me deparo no meu caminho… 

Qual é a minha pedra a ser removida, como se chama esta pedra?

Não é uma pergunta que possa oferecer soluções, mas certamente faz-nos confrontar e nomear as pedras que dizemos ter no nosso caminho.

“Muitas vezes, a esperança é obstruída pela pedra da falta de confiança. Quando se dá espaço à ideia de que tudo corre mal e que sempre vai de mal a pior, resignados, chegamos a crer que a morte seja mais forte que a vida e tornamo-nos cínicos e sarcásticos, portadores dum desânimo doentio. Pedra sobre pedra, construímos dentro de nós um monumento à insatisfação, o sepulcro da esperança. Lamentando-nos da vida, tornamos a vida dependente das lamentações e espiritualmente doente. Insinua-se, assim, uma espécie de psicologia do sepulcro: tudo termina ali, sem esperança de sair vivo. Mas, eis que surge a pergunta desafiadora da Páscoa: Porque buscais o Vivente entre os mortos? O Senhor não habita na resignação. Ressuscitou, não está lá; não O procures, onde nunca O encontrarás: não é Deus dos mortos, mas dos vivos (cf. Mt 22, 32). Não sepultes a esperança!” (Homilia do Papa Francisco na Vigília Pascal de 20 de abril de 2019)


Hoje quando abri a porta da minha casa à Visita Pascal e beijei a cruz senti-me abençoada por tantas graças que recebi ao longo da minha vida. Num segundo percebi que tantas e tantas vezes, julgava que tudo estava prestes a acabar e, no entanto, eis a ressurreição, o túmulo vazio onde a morte é vencida.

Nos últimos meses perdi pessoas muito queridas, amigas que me acompanharam nos últimos tempos, pessoas que viveram uma vida cheia de lutas e tantas pedras que quase as esmagaram.

“Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo. A tua vara e o teu cajado dão-me confiança.” (Salmos 23,4)


A vida, por vezes nos confronta com a nossa fragilidade, de que nada somos, e que por instante, ficamos sem nada, despidos de tudo que julgávamos ter.

Quando Jesus foi crucificado, Ele estava ali, despido de tudo, suas roupas foram divididas pelos soldados e o seu manto sorteado. No calvário, Jesus mostra-nos o que somos quando a doença e a morte se aproxima.

“Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, pegaram na roupa dele e fizeram quatro partes, uma para cada soldado, excepto a túnica. A túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo, não tinha costuras. Então, os soldados disseram uns aos outros: «Não a rasguemos; tiremo-la à sorte, para ver a quem tocará.» Assim se cumpriu a Escritura, que diz: Repartiram entre eles as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes.” (João 19,23-24)


Este nada é o que a morte e a doença nos traz, quer tenhamos muito ou pouco. Não existe distinção para os que têm muito, porque chegada esta hora, temos de sair desta vida com as mãos vazias.

Porém, quando Maria Madalena vai ao sepulcro onde colocaram o corpo de Jesus, no terceiro dia após a sua morte, eis que se depara com um túmulo vazio…

“No primeiro dia da semana, ao romper da alva, as mulheres foram ao sepulcro, levando os perfumes que haviam preparado. Encontraram removida a pedra da porta do sepulcro e, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. Estando elas perplexas com o caso, apareceram-lhes dois homens em trajes resplandecentes. Como estivessem amedrontadas e voltassem o rosto para o chão, eles disseram-lhes: «Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou! Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia, dizendo que o Filho do Homem havia de ser entregue às mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia.»”(Lucas 24, 1-7)


“Recordando Jesus, as mulheres deixam o sepulcro. A Páscoa ensina-nos que o crente se detém pouco no cemitério, porque é chamado a caminhar ao encontro do Vivente. Perguntemo-nos: na minha vida, para onde caminho? Sucede às vezes que o nosso pensamento se dirija continua e exclusivamente para os nossos problemas, que nunca faltam, e vamos ter com o Senhor apenas para nos ajudar. Mas, deste modo, são as nossas necessidades que nos orientam, não Jesus.” (Homilia do Papa Francisco na Vigília Pascal de 20 de abril de 2019)

Por vezes, fixamos-nos nos problemas, naquilo que nos mói por dentro… 

Lembro-me de uma parte do filme da  história de Santa Clara de Assis, quando a irmã Cecília, que estava no convento com Santa Clara, retorna após mendigar por comida … Só lhe deram bocados de pão duro para além das pedras que lhe atiraram e dos insultos que recebeu por ir mendigar, sendo ela de família rica e ter deixado tudo para ir para o convento. Enquanto a irmã Cecília chora e queixa-se da injustiça que sofreu, Santa Clara está a lavar-lhe e limpar-lhe os pés com muito amor, beijando-os ternamente. Por momentos, a irmã Cecília assusta-se por ver Santa Clara, na altura, a sua madre superiora a beijar-lhe humildemente os pés, e depois deste ato bíblico, a exemplo de Jesus, toda a queixa esgota-se…
Este momento do filme pode-se ver no minuto 29.21 do filme em

Esta parte do filme faz-me interrogar onde está a minha fé e esperança em Deus, se a cada pedra que me atiram, deixo-me curvar ou queixo-me amargamente?

Aconselho que vejam não só esta parte mas todo este filme sobre a santa Clara de Assis que nos propõe, que a vida em seu "tudo" ou em seu "nada" diante do nosso amor a Deus, especialmente quando se ama a Deus nos que nos estão próximos, o "nada" e o "tudo" ficam apenas dependente desse amor.

Jesus Ressuscitou e as pedras que me sepultam precisam ser retiradas, especialmente as que me podem matar para sempre:
  
“A Páscoa, irmãos e irmãs, é a festa da remoção das pedras. Deus remove as pedras mais duras, contra as quais vão embater esperanças e expetativas: a morte, o pecado, o medo, o mundanismo.  A história humana não acaba frente a uma pedra sepulcral, já que hoje mesmo descobre a «pedra viva» (cf. 1 Ped 2, 4): Jesus ressuscitado.” (Homilia do Papa Francisco na Vigília Pascal de 20 de abril de 2019)


Bibliografia:
Homilia do Papa Francisco na Vigília Pascal de 20/04/2019:

As passagens bíblicas foram retiradas do site:
capuchinhos.org/

Texto e fotos de autoria de Rosária Grácio

Pinturas de Gráccio Caetano
www.gracciocaetano.com
gracciocaetano.blogspot.pt