Com estes versículos termino a minha reflexão humilde acerca
da armadura do cristão, diante das lutas e perseguições, males espirituais e
corporais que temos neste mundo.
Vivemos em combate, e São Paulo ensina-nos a partir do primeiro versículo do capítulo 6 da Carta aos Efésios, que nos devemos revestir de uma armadura de Deus, indicando-nos também as várias armas espirituais que
culminam com estes três últimos versículos.
São Paulo sabe que esta armadura não é fácil de ser tecida
por causa da nossa fragilidade humana, e por isso, ele propõe que toda e qualquer ação ou
pensamento una-se ao “orar em todo o tempo no espírito”.
Este orar em todo o tempo, significa que a oração deve acompanhar
o cristão em todo o tipo de acontecimento, e não importa se os tempos são bons
ou maus, propícios ou não à oração, se podemos ou não rezar.
"«Mistério admirável da nossa fé!». A Igreja professa-o no
Símbolo dos Apóstolos (primeira parte) e celebra-o na liturgia sacramental
(segunda parte), para que a vida dos fiéis seja configurada com Cristo no
Espírito Santo para glória de Deus Pai (terceira parte). Este mistério exige,
portanto, que os fiéis nele creiam, o celebrem e dele vivam, numa relação viva
e pessoal com o Deus vivo e verdadeiro. Esta relação é a oração." (Catecismo da Igreja Católica nº. 2558)
E por isso, São Paulo propõe que a nossa oração contínua
deve ser feita no espírito.
Quando a oração é feita no espírito, ela não necessita de
ser exposta publicamente, nem deve aguardar que haja uma oportunidade para ser
acolhida em nosso pensamento.
Orar em espírito é um voar para além dos nossos desejos,
para além do momento em que estamos, e muito mais além do que achamos
suficiente.
“De onde procede a oração do homem? Seja qual for a
linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo que ora. Mas para
designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam às vezes da alma
ou do espírito ou, com mais frequência, do coração (mais de mil vezes). É o
coração que ora. Se ele estiver longe de Deus, a expressão da oração será vã.”
(Catecismo da Igreja Católica nº. 2562)
Esta oração não é uma oração egoísta ou centrada em nós
próprios. Esta oração deve abraçar todos os demais que também enredam a luta
pela santidade. E por isso São Paulo solicita que esta oração seja feita como quem
vigia atento, com toda a perseverança, rezando por todos os santos, e também
por ele, o próprio apóstolo São Paulo.
Isto talvez até nos admire, o por quê dos
que já estão convertidos ainda precisarem das nossas orações. No entanto, o
combate neste mundo é intenso e ninguém está imune às quedas e às tentações. Assim sendo, as orações
são esta chama sempre acesa a iluminar os nossos passos.
O Papa Francisco é um exemplo vivo do que São Paulo aqui
solicitou nesta passagem, pois uma das primeiras coisas que pediu ao povo
católico, depois de eleito como papa, é que que todo o povo que assistia a sua tomada de posse, rezasse por ele. E ao longo dos anos do
seu mandato pontifício, e em todas as suas apresentações públicas, o Papa
Francisco é o primeiro a pedir que rezem por ele.
“A intercessão é uma oração de petição que nos conforma de
perto com a oração de Jesus. É Ele o único intercessor junto do Pai em favor de
todos os homens, em particular dos pecadores (Cf. Rm 8, 34; 1 Jo 2, 1; 1 Tm 2,
5-8.). Ele «pode salvar de maneira definitiva aqueles que, por seu intermédio,
se aproximam de Deus, uma vez que está sempre vivo, para interceder por eles»
(Heb 7, 25). O próprio Espírito Santo «intercede por nós [...] intercede pelos
santos, em conformidade com Deus» (Rm 8, 26-27).” (Catecismo da Igreja Católica
nº. 2634)
Por quê esta necessidade de rezarmos pelos outros,
especialmente pelos que já estão no caminho da santidade?
É o próprio São Paulo
que responde: para que quando estes abrirem a sua boca, lhes seja dada a
palavra, e assim, corajosamente, dêem a conhecer o mistério do Evangelho.
O Espírito Santo deve guiar todas as palavras ditas por aqueles que propagam o Evangelho para que possam sempre dizer o que edifica, para que nunca apague a mecha que ainda fumega, esta mecha de fé que ainda está no coração dos que as ouvirem.
O Espírito Santo deve guiar todas as palavras ditas por aqueles que propagam o Evangelho para que possam sempre dizer o que edifica, para que nunca apague a mecha que ainda fumega, esta mecha de fé que ainda está no coração dos que as ouvirem.
“Assim se cumpriu o que fora anunciado pelo profeta Isaías: Aqui
está o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se deleita. Derramarei
sobre Ele o meu espírito, e Ele anunciará a minha vontade aos povos. Não discutirá nem
bradará, e ninguém ouvirá nas praças a sua voz. Não há-de quebrar a cana
fendida, nem apagar a mecha que fumega, até conduzir a minha vontade à vitória.
E, no seu nome, hão-de esperar os povos!” (Mateus 12, 17 – 21)
Mesmo sendo Paulo um embaixador, estava em cadeias, ou seja, estava preso; e ainda mais precisava das
orações para que pudesse falar do Evangelho de Jesus Cristo, de forma aberta e
corajosamente, tal como é o dever de qualquer cristão intimamente convertido.
São Paulo já estava preso à espera de julgamento pelo tribunal romano, e assim
permaneceu nos seus últimos anos antes de ser condenado à morte, por não desistir
de viver e de falar de Jesus Cristo, abertamente, apesar das perseguições e das
calúnias.
“Interceder, pedir a favor de outrem, é próprio, desde
Abraão, dum coração conforme com a misericórdia de Deus. No tempo da Igreja, a
intercessão cristã participa na de Cristo: é a expressão da comunhão dos
santos. Na intercessão, aquele que ora não «olha aos seus próprios interesses,
mas aos interesses dos outros» (Fl 2, 4), e chega até a rezar pelos que lhe
fazem mal (108. Cf. Santo Estêvão rezando pelos que o supliciavam, como Jesus:
cf. Act 7, 60; Lc 23, 28.34.)”. (Catecismo da Igreja Católica nº. 2635)
A oração como intercessão acompanhou os primeiros cristãos
porque assimilaram intensamente a mensagem de Jesus, não como uma dádiva de
salvação pessoal, mas como meio para santificação dos outros, crentes ou não
crentes. Um cristão não se santifica sozinho, mas tem uma missão que ultrapassa
a sua própria santificação.
“As primeiras comunidades cristãs viveram intensamente esta
forma de partilha (109. Cf. Act 12, 5; 20, 36; 21, 5; 2 Cor 9, 14.). O apóstolo
Paulo fá-las participar deste modo no seu ministério do Evangelho (110. Cf. Ef
6, 18-20; Cl 4, 3-4; 1 Ts 5, 25.) mas ele próprio também intercede por elas (111.
Cf. 2 Ts 1, 11; Cl 1, 3; Fl 1, 3-4). A intercessão dos cristãos não conhece
fronteiras: «[...] por todos os homens, [...] por todos os que exercem a
autoridade» (1 Tm 2, 1), pelos perseguidores (112. Cf. Rm 12, 14.), pela
salvação dos que rejeitam o Evangelho (Cf. Rm 10, 1.).“ (Catecismo da Igreja
Católica nº. 2636)
As orações de todos são preciosas, tornam-se sustento para
que aqueles que estão em lutas espirituais e perseguições, possam ter forças para continuar
o seu caminho de santidade e de anúncio do Evangelho.
“A oração é a vida do coração novo. Deve animar-nos a todo o
momento. Mas acontece que nos esquecemos d'Aquele que é a nossa vida e o nosso
tudo. É por isso que os Padres espirituais, na sequência do Deuteronómio e dos
profetas, insistem na oração como «lembrança de Deus», frequente despertador da
«memória do coração». «Devemos lembrar-nos de Deus com mais frequência do que
respiramos» (1. São Gregório Nazianzo, Oratio 27 (theologica 1), 4: SC 250, 78
(PG 36, 16).). Mas não se pode orar «em todo o tempo», se não se orar em certos
momentos, voluntariamente: são os tempos fortes da oração cristã, em
intensidade e duração.” (Catecismo da Igreja Católica nº. 2697)
A oração é tão importante na Igreja Católica que existem
orações que são diariamente feitas por leigos e consagrados em todo o mundo, para além da
Eucaristia diária e os demais sacramentos comuns a todos os cristãos. Trata-se da Liturgia das horas que acompanha
o dia a dia de muitos, por todo o mundo.
“A Tradição da Igreja propõe aos fiéis ritmos de oração
destinados a alimentar a oração contínua. Alguns são quotidianos: a oração da
manhã e da noite, antes e depois das refeições, a Liturgia das Horas. O Domingo,
centrado na Eucaristia, é santificado principalmente pela oração. O ciclo do
ano litúrgico e as suas grandes festas constituem os ritmos fundamentais da
vida de oração dos cristãos.” (Catecismo da Igreja Católica nº. 2698)
Não estarmos sós neste mundo de combate mas toda a Igreja
participa desta comunhão de oração.
“A comunhão dos santos, de fato, indica que somos todos
imersos na vida de Deus e vivemos no seu amor. Todos, vivos e mortos, estamos
na mesma comunhão, isso é, como uma união; unidos na comunidade de quantos
receberam o Batismo e daqueles que se alimentaram do Corpo de Cristo e fazem
parte da grande família de Deus. Todos somos a mesma família, unidos. E por
isso rezemos uns pelos outros.” (Papa Francisco – Catequese na Sala Paulo VI –
Vaticano - 30 de novembro de 2016)
Logo a seguir, ao fim deste artigo deixo alguns links dos sites
de oração que convido a visitar. São sites atualizados diariamente, e que podem
ser luz para as nossas vidas, fortalecendo a nossa fé, alcançando-nos e convidando-nos
a fazer parte desta Igreja além-fronteiras, numa mesma sintonia e perseverança
na oração como São Paulo nos admoestou.
Termino este artigo com uma oração ensinada pelo Papa
Francisco na Audiência Geral de quarta-feira no dia 22 de Junho de 2016.
Segundo
o Papa Francisco, ele reza esta oração todas as noites antes de dormir, para
pedir a Deus sua misericórdia e que o purifique, tal como fez com o leproso do Evangelho.
É uma oração curta, mas certeira e profundamente consciente da misericórdia de
Deus perante a nossa fragilidade humana.
Assim como o leproso se dirigiu a jesus, suplicando:
“Senhor, se queres, podes purificar-me”, o Papa Francisco referiu que este leproso
“não pede somente para ser curado, mas para ser ‘purificado’, isto é, curado
integralmente no corpo e no coração”.
Assim, com plena confiança na onipotência e na bondade de Jesus,
o Papa Francisco reza esta breve oração:
‘Senhor, se queres, podes purificar-me!’
Esta breve oração deve ser feita com o pensamento em cada
uma das cinco chagas de Jesus, rezando de seguida “cinco “Pai Nosso”, um por
cada chaga de Jesus, porque Jesus nos purificou com as suas chagas”,…”e Jesus
nos escuta sempre”, assim foram as palavras do Papa Francisco.
A oração não precisa ser longa, mas o que deve ser profundo
é o nosso pensamento em Deus, enquanto oramos.
(Texto e fotos de Rosária Grácio)
Sites de oração católica:
O Catecismo da Igreja Católica foi consultado em:
Os textos sobre o Papa Francisco foram consultados em:
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