Em Mateus 5, 1 – 12, Jesus
ensina-nos as Bem-aventuranças, que a princípio nos parecem ambíguas à nossa
compreensão racional.
Um dos pormenores que nos devemos
ater é que Jesus “ao ver a multidão” subiu a um monte.
Jesus, certamente tinha
observado a multidão e quando falamos de multidão, falamos de várias pessoas
com diversidade de raças e até talvez, nacionalidades…
A ocupação romana daquele tempo
permitia certa mistura de povos com suas diversas crenças.
Então Jesus, certamente já tinha estado
entre a multidão. Muitas das pessoas que seguiam Jesus, procuravam-no por causa
dos milagres que fazia. Quantas dessas pessoas lhe pediram a cura e a
libertação dos seus males do corpo e do espírito? E quantos também desabafaram
os seus problemas a Jesus, contando-lhes as suas dificuldades familiares e
materiais?
Por isso, havia ali uma multidão de
almas ansiosas por respostas para os seus problemas e as suas debilidades.
E Jesus subiu ao monte. Um monte
é um lugar elevado.
Por vezes, diante dos problemas
temos de elevar o nosso espírito para que assim do alto, possamos contemplar
melhor a amplitude e a dimensão real do que nos atormenta.
Enquanto estivermos afundados nas
nossas preocupações, dificilmente podemos descobrir a luz que está acima do véu
da água turva que nos abate.
Melhor é que subamos para o alto
e que saiamos do fundo que nos agarra os pés… e, então, livres podermos elevar o nosso pensamento para as coisas do
alto.
São Paulo, em certa altura,
aconselha desta maneira uma das comunidades cristãs daquele tempo: “Aspirai às
coisas do alto e não às coisas da terra.” (Carta aos Colossenses 3, 2).
Jesus subiu ao monte e de lá
conseguia ver o mar de gente que o seguia com todas as suas dores, angústias e
preocupações. O que poderia dizer a toda esta multidão que ansiava por
libertação?
Jesus sentou-se. Muitos dos sermões
foram dados por Jesus depois de sentar-se no meio do povo. Este à vontade de
Jesus revela a sua convicção acerca do que falava. Ele não precisa estar de pé,
falar alto ou gesticular energicamente para ser ouvido.
Ao sentar-se, Jesus convida a
todos a sentarem-se com ele. E quando nos sentamos, percebemos logo que o que
vai ser dito será demorado.
O gesto de nos acomodar e pormo-nos à vontade,
seja em que situação for, revela que não temos pressa e estamos completamente
disponíveis para aquele momento.
Jesus, não se importa, que ao
sentar-se, não se torne visível a todos. Aliás, com uma multidão em torno dele,
Ele sabia que nem todos o veriam nas melhores condições.
Efetivamente, Jesus não desejava
que o vissem e o contemplassem pelo que era fisicamente.
Jesus, deste modo, nos
convida a contemplar no íntimo do coração as suas palavras.
Nos tempos de hoje nos atemos
muito ao que vemos e não tanto ao que ouvimos. A televisão procura captarmos
mais pelo sentido da visão do que pelos demais sentidos. E, por vezes, acabamos
por nos prender a pormenores efémeros como um corte de cabelo ou um estio de
roupa.
Quantas vezes, já me aconteceu de
ver um programa de televisão e ao final, pouco me lembrar do que foi dito e
acabar por apenas me recordar de uma imagem chocante que foi exibida?
Jesus, já naquele tempo nos ensinava
a ouvir e não tanto a ver….
“Que o sábio escute, e aumentará
seu saber, e o homem inteligente adquirirá prudência para compreender os
provérbios, as alegorias, as máximas dos sábios e seus enigmas.” (Provérbios 1,
5-6)
Jesus ensina-nos que falar com o coração
é mais eficaz do que falar com eloquência.
Ao mesmo tempo, Jesus sabia que
quem o quisesse ouvir, ia ficar à espera das suas palavras pois eram estas que iriam
confortar os seus corações. Quem tivesse com pressa ou preocupado com a imagem
de Jesus, já estava de antemão, surdo e distante da Sua presença.
“Depois de se ter sentado, os
discípulos aproximaram-se dele.” Sim, quem deseja ouvir Jesus e aprender com
Ele chega-se mais perto. Se desejamos ouvir Jesus devemos nos aproximar Dele. E
essa aproximação faz-se com o coração puro e desapegado.
Se começamos a rezar com o nosso
pensamento preso às preocupações e com a limitação do relógio, estamos muito
longe da presença de Jesus.
Os verdadeiros discípulos de
Jesus, aproximam-se o mais que podem. O
coração e os ouvidos ficam completamente absorvidos pela presença de Jesus.
Este aproximar-se de Jesus é
feito à medida que nos colocamos inteiramente disponíveis para ouvi-Lo.
E Jesus “então tomou a palavra e
começou a ensiná-los, dizendo”: “Felizes os pobres em espírito, porque
deles é o Reino do Céu.”
(Este texto continua nas próximas
publicações deste blogue…)
(Os textos bíblicos foram retirados do seguinte site on line: www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria)
(A foto é uma pintura de Rosária Vilela de tinta acrílica sobre cetim intitulada "Jesus, o Senhor que cura".)