domingo, 9 de outubro de 2016

A cura da lepra espiritual...





Ao entrar numa aldeia, dez homens leprosos vieram ao seu encontro; mantendo-se à distância, gritaram, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!  Ao vê-los, disse-lhes: ide e mostrai-vos aos sacerdotes. Ora, enquanto iam a caminho, ficaram purificados. Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em voz alta; caiu aos pés de Jesus com a face em terra e agradeceu-lhe. Era um samaritano.” (Lucas 17, 12-16)

O relato dos dez leprosos que foram curados por Jesus foi a leitura da missa deste domingo.

Já ouvi esta leitura várias vezes e sempre parava no pormenor do único leproso que voltava para agradecer a Jesus. Mas desta vez, fui saboreando cada uma das palavras e então notei outro pormenor que até agora ainda não tinha notado.

Efetivamente, as leituras bíblicas nunca se esgotam numa única leitura. Todas as vezes que as relemos, encontramos tesouros inesgotáveis da palavra de Deus.

Aos dez leprosos que pediram a cura a Jesus, este apenas lhes pediu que fizessem duas coisas: ide e mostrai-vos aos sacerdotes!

Nunca tinha me deparado com este pormenor. São duas ações que nos lançam num grande desafio: ide e mostrai-vos aos sacerdotes!

Primeiro, temos de ir… Temos de sair da nossa zona de conforto para ir… E ir aonde?

Jesus diz: Mostrai-vos ao sacerdote!

Então Jesus os mandou ao templo para que se mostrassem aos sacerdotes.

Eles, num ato de fé sem olhar para trás, foram…

E no caminho, à medida que caminhavam, ficaram curados…

Este caminho de encontro aos sacerdotes no templo de Deus é exatamente o percurso de fé que Jesus pede aos que lhe pedem uma cura…

Um leproso, no tempo de Jesus, tinha de estar separado, quase que expulso do contexto social pois a lepra não tinha cura e era contagiosa…

As lepras que nos atormentam hoje também nos cobrem o espírito com chagas intermináveis.

As chagas da falta do perdão, da falta de esperança, da falta de alegria, da falta de fé, …

Estas chagas também nos separam dos outros…

Aliás, um dos grandes sofrimentos do nosso tempo é este isolamento crescente em que vivemos…

Cada vez mais, o estar com o outro nos incomoda…

E então viramo-nos para o trabalho, para as redes sociais e isolamo-nos!

São tantas as chagas que nos cobrem espiritualmente que lentamente ficamos como aqueles leprosos, a suplicar que do alto do céu, nos seja concedido um milagre.

E Jesus apenas nos pede para ir e nos mostrar aos sacerdotes….

No tempo de Jesus, quando havia uma cura, era preciso que a pessoa curada se mostrasse ao sacerdote para que diante do povo, ela fosse considerada uma pessoa sã.

No caso dos leprosos, só depois deste mostrar-se ao sacerdote, é que ele poderia voltar à convivência social com os demais.

Jesus pede para que mostremos as nossas chagas do pecado ao sacerdote…

E quando é que eu mostro as minhas chagas ao sacerdote? Na confissão!

É penoso este percurso de sair de onde estamos, e voltar novamente à Igreja e nos confessarmos…

Penso que ao confessar os meus pecados, estou realmente me livrando da minha lepra espiritual pois a mostro ao sacerdote no sacramento da confissão.

E depois, temos aquele leproso, que se sentindo curado, voltou para trás para agradecer a Jesus.

Esta parte da leitura bíblica talvez é a que mais nos fica na cabeça.

Sim, dos dez, apenas um, e samaritano, voltou para agradecer a Jesus.

Este agradecer a Deus é realmente um aspeto que se descura atualmente na nossa sociedade.

Nota-se frequentemente que quando algo vai mal, vem uma doença ou acontece um cataclisma, logo emergem gritos e raivas diante de Deus. Por que fazes isso comigo, meu Deus?- dizemos.

No entanto, quando vem a bonança… E as coisas boas se encaminham, quando é que os meus lábios louvam a Deus?

E então eis que o evangelho de hoje me ensinou a praticar três ações importantíssimas na minha caminhada cristã:

·         Ir ao encontro de Deus, retornando ao seu templo.
·      
       Mostrar as minhas chagas e confessa-las a um sacerdote.

·         
        Agradecer no decurso deste caminho, cada pormenor de bênção que Deus me concede.

sábado, 8 de outubro de 2016

Batizar é revestir de Cristo mediante a fé



“É que todos vós sois filhos de Deus em Cristo Jesus, mediante a fé; pois todos os que fostes baptizados em Cristo, revestistes-vos de Cristo mediante a fé. Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus.”
(Gálatas 3, 26-28)

Estas palavras bíblicas de São Paulo são muito fortes e falaram-me ao coração. 

Neste tempo em que as pessoas pouco ligam ao batismo, colocando esta questão para mais tarde, porque associam este sacramento a mais um rito, a mais um papel ou a uma tradição já obsoleta.

Batizar ou não batizar é mais uma opção como tantas outras que temos no nosso mundo moderno.

E cada vez mais, as crianças ficam sem batizar porque afinal, dizem-nos que elas têm o direito de optar por isso mais tarde, se quiserem…

Realmente, podemos optar por Cristo, agora ou então mais tarde.

Cristo não nos obriga a que tenhamos de fazer isso ou aquilo.

O que mais gosto no cristianismo é esta liberdade que nos é concedida.

O nosso Deus é Pai. E a um pai, podemos escolher obedecer ou desobedecer… A um pai podemos escolher defender a sua herança ou podemos dissipa-la.

O amor de um pai vai para além da gratidão dos seus filhos.

Mesmo que escolhamos queimar toda a herança de um pai, ou fugir dele, no nosso sangue permanece a nossa ligação a ele.

Não usar da herança, não estar com o nosso pai, não seguir os seus passos… Tudo isso podemos fazer, mas mesmo assim permanece a filiação.

Com Deus, nosso Pai, é exatamente da mesma maneira. Somos seus filhos, quer creiamos ou não, quer aceitemos ou não. O Deus que é Pai de todos, maus ou bons, ricos ou pobres, doentes ou sãos, felizes ou infelizes…

Quando Jesus nos ensinou a chamar a Deus de Pai, começou no cristianismo esta universalidade paterna de Deus.

 E então o cristianismo tornou-se esta forma livre de optar.

No entanto, uma opção traz consequências.

Optar por vacinar ou não vacinar. Optar por estudar ou não estudar. Optar por ir ao médico ou deixar-se ficar com a doença.

As opções são assim, ou vamos por um caminho ou vamos por outro.

Na religião, há também esta opção por crer ou não crer, por seguir ou não os preceitos da religião que escolhi.

E a religião é mais uma das opções do nosso mundo moderno.

No entanto, como todas as opções, escolher ter uma religião ou não ter uma religião tem consequências.

Então quando leio que quando somos batizados em Cristo, somos revestidos de Cristo, esta opção por batizar ou não batizar torna-se ainda mais complexa.

Se ao batizar-me em Cristo, sou revestida de Cristo, então como agradeço a feliz graça que meus pais me concederam quando em 13 de março de 1966, fui batizada.

Obrigada meus queridos pais por me terem revestido de Cristo no meu batismo e assim pude desde muito novinha entrar neste encontro com Cristo que já é uma caminhada de mais de cinquenta anos.

Mesmo revestida de Cristo, tenho de optar todos os dias por caminhar ao seu encontro, e felizmente pude saborear desde cedo esta imensa felicidade que Jesus Cristo me ensinou: Deus é meu Pai eterno e eu sou a filha amada de Deus.