sábado, 16 de setembro de 2017

A Armadura de Deus - Parte II: Revesti-vos da armadura de Deus!


Continuação do artigo anterior - "A Armadura de Deus- Parte I: Tornai-vos fortes no Senhor e na sua força poderosa"

"Revesti-vos da armadura de Deus, para terdes a capacidade de vos manterdes de pé contra as maquinações do diabo. Porque não é contra os seres humanos que temos de lutar, mas contra os Principados, as Autoridades, os Dominadores deste mundo de trevas, e contra os espíritos do mal que estão nos céus. Por isso, tomai a armadura de Deus, para que tenhais a capacidade de resistir no dia mau e, depois de tudo terdes feito, de vos manterdes firmes." (Efésios 6, 11-13)

São Paulo não me faz um pedido, mas diz-me, com toda a autoridade, que se eu quiser me manter de pé, tenho de me revestir da armadura de Deus.

Segundo o dicionário, “Revestir”, é “tornar a vestir, cobrir; tapar, fazer o revestimento. Ou seja, tenho de me vestir por completo com a armadura de Deus, aliás tenho que fazer com que esta armadura de Deus possa me tapar inteira, protegendo-me completamente, para que possa me manter de pé diante das contrariedades do mal.

Aqui não existem opções. Ou me revisto desta armadura de Deus, ou então, certamente irei cair diante das dificuldades que, certamente, se porão à minha frente.



Mas afinal, de que devemos nos proteger? São Paulo diz-nos claramente: das maquinações do diabo, dos Principados, das Autoridades e dos Dominadores deste mundo de trevas, bem como dos espíritos do mal que estão nos céus. E para além disso, temos de nos precaver, pois chegarão os chamados "dias maus", pelos quais temos de passar durante a nossa vida.

São Paulo denomina o que poderá nos ameaçar e alerta-nos ainda no versículo 12: “Porque não é contra os seres humanos que temos de lutar, mas contra os Principados, as Autoridades, os Dominadores deste mundo de trevas, e contra os espíritos do mal que estão nos céus.

Por vezes, penso que a minha guerra é contra pessoas. Coloco muitas vezes a culpa nos outros, em situações e coisas materiais para este ou aquele flagelo que me aconteceu. Porém, São Paulo avisa-me que, enquanto pensar assim, acabo por me desviar do verdadeiro alvo.

Esta dramática situação do mundo, que «está todo sob o poder do Maligno» (1 Jo 5, 19) (Cf. 1 Pe 5, 8.), transforma a vida do homem num combate: «Um duro combate contra os poderes das trevas atravessa toda a história dos homens. Tendo começado nas origens, há-de durar – o Senhor no-lo disse – até ao último dia. Empenhado nesta batalha, o homem vê-se na necessidade de lutar sem descanso para aderir ao bem. Só através de grandes esforços é que, com a graça de Deus, consegue realizar a sua unidade interior» (II Concílio do Vaticano. Const. past. Gaudium et spes, 37: AAS 58 (1966) 1055.)” (Catecismo da Igreja Católica nº 409)

Há alguns dias, o Papa Francisco esteve na Colômbia e a mídia manteve-se quase que silenciosa a respeito desta sua visita pastoral. No entanto, eis que o Papa Francisco se desequilibra no papa-móvel, em Cartagena, na Colômbia, batendo a cara numa as estruturas do carro, magoando-se sem muita gravidade. No entanto, esta queda, foi notícia em todos os jornais e redes de televisão.

Este é um pequeno exemplo, que prova o quanto o mundo está ansioso pelo mal. Notícias boas raramente são alvo de atenção. O que realmente é falado abertamente é o que choca, o que de mais negativo invade o mundo.

Nisto percebo o porquê de São Paulo falar dos tais Principados, Autoridades e Dominadores deste mundo de trevas. Dia após dia, percebe-se este galgar nas trevas a partir destas opções humanas por valorizar o negativo, incentivar a perda, enaltecer a catástrofe. A pessoa humana torna-se refém das suas fragilidades, e o desânimo instala-se em seu coração, acomodando-a às situações que lhe parecem imutáveis e ligadas a uma sina indestrutível. 

A tentação apresenta-se-nos de modo traiçoeiro, contagia todo o ambiente que nos circunda, leva-nos a procurar sempre uma justificação. E no fim faz-nos cair no pecado, fechando-nos numa jaula da qual é difícil sair. Para lhe resistir é preciso ouvir a palavra do Senhor, porque «ele nos espera», dá-nos sempre confiança e abre diante de nós um novo horizonte.” (síntese da reflexão do Papa Francisco durante a missa celebrada em Santa Marta na manhã de terça-feira 18 de Fevereiro de 2014).



O diabo já está derrotado, porém ele não quer ir sozinho para o caminho que já lhe está destinado. O ser humano é o seu grande alvo principal, pois sabe que ao magoar e fazer perder o ser humano, estará também a tirar de Deus, as suas criaturas amadas. E o mal gosta de justificar-se, trazendo companhia para não mostrar que é o único. Ele gosta de tornar o ser humano incapaz de lutar contra as suas limitações, pois assim é mais fácil leva-lo à descrença acerca da Bondade de Deus e à soberba por julgar-se capaz por si próprio para lutar sozinho.

Inicialmente a tentação «começa com um ar tranquilizador»?, mas «depois aumenta. O próprio Jesus o dizia quando contou a parábola do trigo e do joio (Mt 13, 24-30). O grão crescia, mas crescia também o joio semeado pelo inimigo. E assim também a tentação, cresce, cresce, cresce. E se não a bloqueamos, invade tudo». Depois vem o contágio. A tentação «cresce mas não gosta da solidão»; portanto «procura companhia, contagia outro e assim acumula pessoas». Outro aspecto é a justificação, porque nós homens «para estarmos tranquilos justificamo-nos».” (Meditações do Papa Francisco na missa celebrada em Santa Marta em 18 de Fevereiro de 2014).

Quando o ser humano se conscientiza que é uma pérola preciosa de Deus, evidenciando a sua natureza única na Criação bela de Deus, assume o seu valor único e incalculável pelo que é, e pela missão que lhe está destinada neste mundo.

O diabo, por sua vez, quer de todas as maneiras que foquemos no mal, no que de mais perverso há nos outros e em nós mesmos.  Por isso abunda no mundo, autoridades destinadas a tirar o que há de mais sagrado no ser humano: a sua vida, desde a concepção no útero até a sua morte, a sua identidade biológica como homem e mulher que se complementam bem como a sua ação única no universo com os seus dons e carismas específicos de cada um.

Então, toda esta reflexão daquela parábola do trigo e do joio contada por Jesus serve-me de ensinamento:

Jesus propôs-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é comparável a um homem que semeou boa semente no seu campo. Ora, enquanto os seus homens dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e afastou-se. Quando a haste cresceu e deu fruto, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram ter com ele e disseram-lhe: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio? Foi algum inimigo meu que fez isto - respondeu ele. Disseram-lhe os servos: Queres que vamos arrancá-lo? Ele respondeu: Não, para que não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo ao mesmo tempo. Deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa; e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; e recolhei o trigo no meu celeiro.»”(São Mateus 13, 24- 30)



Assim como este trigo que é semeado para dar fruto, é cercado pelo joio que o tenta emudecer e matar, igualmente o mundo assim se mostra não apenas no tempo de Jesus, como também nos nossos tempos. A meu entender, pela leitura que faço da história da civilização, que esta parábola do trigo e do joio que crescem juntos, traduz toda a vida humana nesta terra, desde os seus primórdios.

O ensinamento da parábola é dúplice. Antes de tudo recorda que o mal existente no mundo não deriva de Deus, mas do seu inimigo, o Maligno. É curioso, o Maligno sai à noite para semear o joio, na escuridão, na confusão; sai para semear o joio onde não há luz. Este inimigo é astuto: semeou o mal no meio do bem, de tal forma que para nós, homens, é impossível separá-lo claramente; mas no final Deus conseguirá fazê-lo!”(Papa Francisco na oração do Angelus de 20 de julho de 2014).

Existem realmente muitos que dizem que é melhor retirar o joio, "matar o mal pela raiz", como dizem, e nós humanos gostamos de dar soluções fáceis para problemas difíceis. Porém, o Senhor do campo é paciente, pois sabe que as aparências enganam, e que felizmente, ainda há muito trigo escondido em meio ao joio. Deus vê o seu campo de trigo a crescer com o joio e aguarda pela colheita, quando já se pode separar, com certeza, o que é o joio e o que é o trigo.

A atitude do dono do campo é aquela da esperança fundada na certeza de que o mal não é a primeira nem a última palavra. E é graças a esta esperança paciente de Deus que o próprio joio, ou seja, o coração maldoso, com muitos pecados, no final pode tornar-se uma boa semente. Mas atenção: a paciência evangélica não é indiferença diante do mal; não se pode fazer confusão entre o bem e o mal! Perante o joio presente no mundo, o discípulo do Senhor é chamado a imitar a paciência de Deus, a alimentar a esperança com o alento de uma confiança inabalável na vitória final do bem, ou seja, de Deus.”(Papa Francisco na oração do Angelus de 20 de julho de 2014).

Deus quer que todos se salvem, porém respeitará a nossa opção!

Deus não predestina ninguém para o Inferno (II Concílio de Orange, Conclusio: DS 397; Concílio de Trento, Sess. 6ª. Decr: de iustificatione, canon 17: DS 1567). Para ter semelhante destino, é preciso haver uma aversão voluntária a Deus (pecado mortal) e persistir nela até ao fim. Na liturgia eucarística e nas orações quotidianas dos seus fiéis, a Igreja implora a misericórdia de Deus, «que não quer que ninguém pereça, mas que todos se convertam» (2 Pe 3, 9): «Aceitai benignamente, Senhor, a oblação que nós, vossos servos, com toda a vossa família, Vos apresentamos. Dai a paz aos nossos dias livrai-nos da condenação eterna e contai-nos entre os vossos eleitos» (Oração Eucarística I ou Cânone Romano, 88: Missale Romanum, editio typica (Typis Polyglottis Vaticanis 1970), p. 450 [Missal Romano, Gráfica de Coimbra 1992, 518]). (Catecismo da Igreja Católica nº. 1037)



Jesus, mais adiante no mesmo evangelho, explica também esta parábola aos seus discípulos:

Afastando-se, então, das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se dele, disseram-lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.» Ele, respondendo, disse-lhes: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que a semeou é o diabo; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos. Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, oiça!».”(São Mateus 13, 36- 43)

Jesus, assim explica aos seus discípulos e em particular, sobre o significado da parábola do joio e do trigo, usando palavras muito fortes que são finalizadas com uma advertência:  "Aquele que tem ouvidos, oiça!"

Com efeito, no final o mal será arrancado e eliminado: no tempo da colheita, isto é do juízo, os ceifeiros cumprirão a ordem do senhor, separando o joio para o queimar (cf. Mt 13, 30). Naquele dia da ceifa final o Juiz será Jesus, Aquele que lançou a boa semente no mundo e, tornando-se Ele mesmo «grão de trigo», morreu e ressuscitou. No final, todos nós seremos julgados com a mesma medida com a qual tivermos julgado: a misericórdia que tivermos usado em relação aos outros será utilizada também para connosco. Peçamos a Nossa Senhora, nossa Mãe, que nos ajude a crescer na paciência, na esperança e na misericórdia com todos os irmãos.” (Papa Francisco na oração do Angelus de 20 de julho de 2014)

Não devemos fingir que o mal não existe, ou que o mal já venceu… A história humana nestes séculos de existência em meio a guerras, doenças e cataclismas prova exatamente o contrário, pois no fim de tudo, eis que a caridade sara as feridas e o bem reconstrói os corações. Os verdadeiros heróis da história não estão nos manuais da escola pois estes não erguem as espadas, mas sim são os que lentamente, tijolo a tijolo, reerguem as sociedades humanas em alicerces seguros que são os valores morais que levam à paz e a concórdia entre os povos.

“Por isso, tomai a armadura de Deus, para que tenhais a capacidade de resistir no dia mau e, depois de tudo terdes feito, de vos manterdes firmes.” (Efésios 6, 13)

Afinal, todo este suposto “domínio das trevas”, apesar de nefasto e homicida, está derrotado na cruz de Jesus. Assim como no tempo do apóstolo São Paulo, hoje também estamos nesta luta espiritual, e apesar de tanto alarde que é feito, surgem sempre flores perfumadas no meio dos pântanos, janelas abrem-se em direção ao céu apesar da escuridão da terra, o trigo cresce nas cearas entre o joio que o tenta limitar e sucumbir…






Deixo aqui alguns links de histórias recentes em que pessoas heroicamente persistem e mudam o rumo da história, reconstruindo-a, apesar das perseguições e perdas:

Bibliografia:

Palavras bíblicas consultadas em

Frases do Papa Francisco e do Catecismo da Igreja Católica consultados em:
www.vatican.va/

Pinturas de Gráccio Caetano
www.gracciocaetano.com

Fotos de Rosária Grácio

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